quinta-feira, 7 de julho de 2011

espetáculo

O FORRÓ DE GILBERTO GIL

Silvio R. Santos

Gilberto Gil em Canindé
22h15min de 07 de julho, depois de breve anúncio, sobe no palco erguido na praça dr. Aramis, em Canindé, totalmente lotada, o esguio músico, trajando jeans e camiseta escuros e tênis claros, local em que estivera testando o som por volta de quatro da tarde. De guitarra em punho, com  vitalidade que apresentaria em todo decorrer de um show de duas horas, Gilberto Gil entoa as frases da primeira música da noite, uma canção de seu disco Fé na Festa, lançado em 2010 e dedicado ao repertório junino. Gil recupera um gênero que tem sido profundamente deturpado pela voragem comercial das bandas de baile nos últimos anos, com graves prejuízos em sua autenticidade no decorrer desse caminho. Acompanhado por excelentes músicos, com pelo menos dois virtuoses, na rabeca e no acordeom, num entrosamento sem hesitações, com um gingado permanente no palco, garantido por sua forma física excepcional, o show do autor de Drão, teve como suporte clássicos de Luíz Gonzaga como Baião da Penha e Xote das Meninas,  numa interpretação renovada, mas que faz justiça ao original, sem achegas, reduções ou ousadias malsucedidas.  A voz de Gil é aguda e límpida, como sempre foi, o que lhe permite efeitos, onde o falsete é um dos mais simples.  Baião, xote, xaxado, reggae, samba esses foram os ritmos que predominaram nessa noite em que o diálogo constante do artista com o público, tecendo explicações simples mas profundas sobre as músicas que executava, encantou a multidão que compareceu à praça. Em face de duas situações inusitadas (uma consentida), na outra, dois jovens irromperam no palco para abraçar o cantor, saiu-se muito bem, enquanto a segurança a postos resolvia cumprir o seu papel. Ao pedir água à produção Gil entoa versos de Tenho Sede, composição de Dominguinhos e Anastácia, num belo momento de improviso. A vitalidade do artista é tanta que chega a ofuscar a beleza das músicas que canta, como quando executa com agilidade passos de xaxado, pontos de umbanda e frevo, isto em primeiro momento, porque logo, qualquer um se deixa envolver pelo som do seu forró pesado.  Minha Princesa Cordel, executada utilizando a parceria virtual de Roberta Sá, tema de uma telenovela, foi uma das músicas mais ovacionadas pela platéia. O clássico Não Chore Mais (No Woman no cry) foi cantado em versão bilíngüe. O swing de Toda Menina Baiana,  Madalena, Expresso 2222,  Nos Barracos da Cidade, tocada já em momento em que voltou para atender ao pedido de bis da platéia,  proporcionaram grande momentos dançantes, assim como do seu último disco, o temático Fé na Festa, o arrasta-pé Assim, sim. Vindo de uma longa e vitoriosa carreira, tendo estado presente nos principais momentos de renovação da música nacional, Gilberto Gil não fez adesão de última hora à música nordestina, o acordeom é um dos instrumentos que conhece bem. Na verdade é um pesquisador dessa tradição, com incursões fundamentais pelo rock, pela balada romântica,  por músicas de grande profundidade filosófica. Sua desenvoltura no forró é a mesma de quem já emplacou sucessos como Eu só Quero um Xodó, Esperando na Janela e Lamento Sertanejo.  O show de ontem é o mesmo com que já percorreu em turnê a Europa, no ano passado. Nada mal para quem chegou a bem vividos 69 anos, em 26 de junho último.



7 comentários:

  1. Gilberto Gil demonstrou que o forró ainda não se tornou aquilo em que as bandas comerciais querem transformá-lo. Revisitou clássicos de Luíz Gonazaga e sucessos próprios de sempre. Grande show, quem viu, constatou.

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  2. Pelo menos nesse aspecto Canindé está evoluindo, ao fazer parte do circuito cultural do Estado, abrigando shows de artistas renomados como Fagner, Elba Ramalho, Dominguinhos e agora o multi-talentoso Gilberto Gil, ex-ministro da cultura do saudoso Governo Lula. Parece que dessa vez os políticos oportunistas se mancaram e não pegaram carona no evento, como já ocorreu em vezes passadas. Até que fim uma boa notícia vinda da terrinha.

    Luciane Alves Pereira

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  3. O poeta Silvio Roberto Santos admira o trabalho de Gilberto Gil desde o tempo em que cursávamos o ensino médio no Colégio Estadual Paulo Sarasate. Lembro-me que ele gostava, principalmente daquela fase reggae do genial compositor baiano, onde pontificaram pérolas como Não Chores Mais, Barrcos da Cidade e Oração pela libertação da África do Sul (se o rei Zulu já não pode andar nu). Músico da bandinha local, Silvio gostava sobretudo do naipe de metais presente nas canções do velho compositor baiano, sempre impecáveis, liderados pelo talentoso Serginho Trombone. Uma ótima crítica sobre o show ocorrido em Canindé.

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  4. A formação intelectual de Silvio R. Santos, construída por seu próprio esforço, contém um amadurecimento em todos os aspectos. Na música também. Desde que o conheço, seus pontos vista sobre qualquer assunto são de uma honestidade a toda prova, sinceridade que não se curva a nada. Sempre ouvi dele elogios ao trabalho musical de Gilberto Gil, encômios que são pontuados pela erudição de SRS também sobre esse assunto. Não fui ao show do compositor baiano, mas pelo seu aspecto técnico, é como se tivesse assistido depois que li o artigo do nosso amigo e colaborador. félicitations!

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  5. Ficamos no aguardo se algum dia a terrinha não terá apenas progresso passivo. O termômetro é o último Censo, que aponta diminuição da população... geralmente as cidades que progridem adotam um rumo diferente.

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  6. Ouvi um dia desses no rádio, se não me engano no programa do Tonico Mareiro que caninde esta crescendo pra baixo, igual a rabo de cavalo. Concordo com o Tonico. Infelizmente a verdade é essa. Já que o governo do estado não manda um hospital pra gente, manda pelo menos um show de um artista famoso. Ô consolo sem graça.

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  7. foi muinto bem a cantoria do gil o governo deveria enveste mais na cultura no ceara .por esempro num festival de cantador.seria muinto bem
    ..........joao paulo gomes

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