quinta-feira, 30 de junho de 2011

CRÔNICA

O MÊS DE JUNHO E ALGUMAS PARTICULARIDADES

Pedro Paulo Paulino

O mês de junho acaba, mas por aí afora continuam os festejos típicos deste período. Pelo que se observa na mídia, as festas juninas tiveram um grande crescimento no Nordeste, fazendo a gente crer mesmo que essa tradição está bem preservada, com todos os seus elementos do folclore, como as fogueiras, quadrilhas, roupas e comidas típicas. Até mesmo o forró, tão maltratado agora, volta a ser ouvido em sua versão genunína nesta época. Mas falo de longe; de perto, a coisa deve se mostrar muitas vezes depreciada.
E, se fosse realizada uma estatística, suponho que São João, na média geral, ganharia folgado como o santo que mais atraiu gente em sua festa. Isto talvez porque, seu dia coincidiu com o feriado prolongado de Corpus Christi. Afora este detalhe, os três santos deste mês, Santo Antonio, São João e São Pedro, sempre estiveram em pé de igualdade perante a aceitação popular, cada um com sua magia e promessas. O povo nordestino adotou esses personagens da Igreja Católica como se realmente eles fossem nossos conterrâneos, tal a afinidade com nossa cultura.
Reunião de amigos na
Vila Campos no feriadão
Quanto às festas, eu, particularmente, optei pelo meu recesso caseiro. Mas não deixei de acender uma fogueira a São Pedro, santo do meu nome e do nome do meu pai. São Pedro, pescador santo e chaveiro do céu, tem emprestado seu nome a muita gente desde a antiguidade, aqui e alhures. O nome Pedro tem equivalente em quase todos os idiomas do mundo. Conheço um cidadão que se chama Pedro Pierre, ou seja, Pedro duas vezes. Bom, como disse, o feriado pegou-me em casa, onde logo na quinta-feira fui visitado por amigos lá de Canindé. Um deles, o Wanderley de Castro, que sempre vem por aqui; outro, o poeta Wanderley Pereira. Comentamos, inclusive, essa ocasião rara da reunião de dois Wanderley no mesmo local. Ainda na quinta-feira que passou, surpreendeu-me com sua visita o Capitão Arimateia Bezerra, acompanhado de seu mano Wellington.
Capitão Ari acaba de voltar a Canindé depois de uma temporada no Norte do país a serviço da Marinha Mercante do Brasil. Desta vez ele optou por navegar aqui por perto mesmo. Perto digo em relação às diversas vezes que ele já cruzou os sete mares comandando grandes embarcações. Já que uma de suas predileções é a boa leitura, podemos dizer que ele é um homem lido e viajado. Assim, conhece ele um bocado da cultura de cada terra por onde já passou. O retorno do Capitão Ari a Canindé faz acender o farol da cultura local.
É uma tradição dele juntar os amigos poetas, escritores, músicos e artistas em geral, nas animadas reuniões em sua cobertura. É um encontro do tipo de A a Z da arte local: Arievaldo, Jota Batista, Chico Walter, Silvio R. Santos, Edmundo, Dedé Fabiano, Cesar Menotti, Nadja, Filomeno, este escriba e outros amigos da cultura ali são convidados sempre. Mencionar os Marreiro é redundância, que todos são da casa e poetas. Verso, prosa, violão e muita história compõem o cardápio espiritual desses encontros. A recepção é, como se diz, impecável, tanto pela parte do Capitão, quanto pela parte de sua querida Aurora Marreiro. O casal anfitrião acolhe seus convivas num misto da hospitalidade de nossa gente com o verdadeiro conhecimento de causa no assunto receber bem. O drink é servido, um ótimo acepipe, e o sarau acontece...
Capitão Ari, Dedé Fabiano e PPP
De sua cobertura, tem-se uma visão panorâmica da zona Leste da cidade, onde fica a estátua de S. Francisco. Durante essas audiências culturais, um grosso e pesado caderno, uma espécie de livro de ponto, começa a passar de mão em mão. Nele, os convidados obrigatoriamente têm que assinar uma décima, uma trova, uma mensagem, um registro qualquer de sua frequência. O próprio Capitão toma a iniciativa, como bom versejador. O livro já recebeu o apropriado nome de “Sossego do Mar”. Capitão Ari, aliás, tem sempre à mão uma novidade livresca interessante para mostrar aos amigos, seja uma publicação da literatura cearense, seja um livro antigo de história. Bom papo e muita coisa interessante pra contar, ele faz a vez de anfitrião e convidado ao mesmo tempo. Em resumo, seu retorno mobiliza culturalmente o Canindé. A satisfação do Capitão Ari em voltar e reencontrar toda essa gente deixa-o, literalmente, pisando em terra firme. A sua alegria faz notar ainda que, apesar de ele conhecer o mundo inteiro, seu mundo maior é a terrinha natal.


2 comentários:

  1. A Vila Campos é esse porto calmo em que os poetas e "intelectualizados" vão buscar alívio para a correria tediosoa do cotidiano. Bom papo e goles de aguardente macia (para quem pode) nos esperam, enquanto vemos os campinas em aérea coreografia pelo oitão do poeta PPP. Saltam um soneto, um fado, gargalhadas do escritório do anfitrião,nostalgia das musas, e assim as horas escorrem, como as doses da garrafa, acelerando a conclusão do dia.

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  2. Já tive a honra de ser convidado diversas vezes para um bom bate-papo e rega-bofe no 'Sossego do Mar', dos grandes anfitriões Ari e Aurora. Vista esplêndida da Basílica, do rio Canindé e outras belezas da Meca Franciscana. Dizem que a cidade é muito quente, mas ali a brisa sopra sempre suave. A boa música, a poesia, livros raros e boa bebida fazem o camarada esquecer qualquer contratempo. Precisamos retornar urgentemente para um 'sarau' no Sossego do Mar.

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