quinta-feira, 2 de junho de 2011

CORDEL DE ÉPOCA


No dia 8 de março de 1997, eu e o poeta Arievaldo lemos na revista Veja matéria intitulada “Dolly, a revolução dos clones”, com o seguinte sub-título: “Ian Willmut abre uma polêmica sobre ética na pesquisa científica ao copiar ovelha em laboratório”. Achamos um verdadeiro desperdício esse renomado cientista gastar seu precioso tempo fazendo clone de ovelha, já que existe tanta mulher bonita por aí… Foi então que imaginamos clones da Carla Pérez, Bruna Lombardi, Isadora Ribeiro, Vera Fischer e outras musas da época. E este cordel que foi publicado numa caixa com dez folhetos de nossa autoria, e ainda no livro O Baú da Gaiatice, de Arievaldo. Os versos, claro, são uma sátira ao assunto mais controverso e polêmico da época. Já nos dias de hoje, o que está muito em voga é a clonagem de cordel.


SE O CLONE FOR APROVADO
VOU MANDAR FAZER O DELA

Arievaldo Viana e
Pedro Paulo Paulino

Já que ela não me quis
Vou apelar pra ciência
Nem que minha consciência
Me transforme num infeliz
Eu desejava a matriz
Mas só me trouxe querela
Pra terminar a novela
Já estou determinado:
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Se com ovelha é possível
Por que não daquela gata?
A sorte não é ingrata
E a ciência é incrível
Acho muito apetecível
Um clone até do Mandela
Já do Carneiro Portela
Eu acho bem empregado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Tomara que o equipamento
De fazer repetição
Tire dela a danação
Que me deixou ciumento
Foi o mais perfeito invento
Que a TV mostrou na tela
Se não passar de balela
Eu já me sinto animado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Num vilarejo pacato
Eu procuro um certo alguém
Se ela não me quis bem
Eu nem por isso me mato
Sou um homem, não um rato
Mulher pra mim, só tem ela
A considero a mais bela
E a desejo a meu lado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Eu quero com perfeição
A cópia da criatura
Com a mesma curvatura
Do corpo de violão
São não quero o coração
Que me deu triste sequela
Mas quero a boca singela
Que me deixou amarrado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Já disse isso em Natal
E afirmo no Canindé
Amor pra mim só dá pé
Se eu pegar esse “animal”
Agora, no Carnaval
Eu segurei até vela
Quase que morro por ela
Êta! Que amor arretado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Sei que agora vou viver
Ao seu lado, sem parar
Pois quando um clone acabar
Mando logo outro fazer
Vou sempre permanecer
Ao lado dessa donzela
Quem para ciência apela
Nunca fica abandonado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Em se tratando de clone
Eu acho coisa decente
Resolve um amor pendente
Até paixão de ciclone
Lá no brega, um cicerone
Me mostrou linda “donzela”
Mas depois do “rela-rela”
Me senti prejudicado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Era esse o tal problema
Que me deixou descontente
E a ciência, de repente
Pôs um fim no meu dilema
O amor é forte tema
Ninguém na vida o cancela
Morena cor de canela
Vou tirar meu atrasado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

O meu amigo aconselha
Sendo um vate campesino
(Mas não sendo o valdivino
Dono mesmo de uma ovelha):
Faça o que lhe der na telha
Copie quem não lhe dá na trela
E não ligue pra mazela
Que chifre não é pesado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Mulher, embora vadia
Também merece clonagem
Pois somente a vadiagem
Satisfaz a nossa orgia
Tudo, tudo eu toparia
Pularia até cancela
Por um coisa daquela
Me confesso um desgarrado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Agora mesmo eu queria
Um clone bem reluzente
De olhar verde, inocente
Vindo da Andaluzia
Não quero a fotografia
Porque paixão não revela
A foto fica amarela
E a gente deixa de lado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Se eu pegá-la, vou tirar
Dez cópias de uma só vez
Depois, com todos vocês
O pão vou compartilhar
Só assim posso evitar
De cair numa procela
Do chifre, que sempre atrela
O cabra despreparado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Chifre era antigamente
Agora, está resolvido
A mulher que tem marido
Se acaso achar pretendente
Não dá nada de presente
Como se vê em novela
Tira carne da costela
E o “negão” fica arrumado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

Junta óvulo, cromossomo
Mais um pedaço da teta
Bota tudo na proveta
Mistura com sabão Omo
Bastar consultar um tomo
Que descreve essa querela
Não precisa de sovela
Deixe o martelo de lado
Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela

4 comentários:

  1. Poeta, se fora aprovado, tenho algumas encomendas....

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  2. Sugiro, poeta, a busca tradicional. O clone tem que passar por congressistas, numa competição injusta.

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  3. Homi...

    Faça clone não, arrume outra! Que coisa mais besta! Fazer clone de uma mulher que não lhe quer? Tome tenência!

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    Abraços!

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  4. Olá PPP,
    Ficou muito bom os versos de vocês.
    Mas é lógico que o original é sempre a melhor pedida.
    Um abraço,
    Dalinha

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