Autor: Pedro Paulo Paulino
A Folha Celestial,
Que circula todo dia,
Em sua primeira página
Para o mundo noticia
Que os santos, em protesto,
Fizeram seu manifesto
Por causa da pandemia.
Pois em muitos povoados,
Vilas, distritos, cidades,
Devido ao coronavírus
E suas calamidades,
Com tanta gente morrendo,
Os santos não estão tendo
As suas festividades.
Alegam também os santos,
Que estão sobrecarregados
Com milhares de pedidos
Que são da Terra enviados
Direto à Corte Celeste,
Suplicando o fim da peste
Que já fez tantos finados.
São Jorge não tem mais conta
Dos rogos já recebidos;
Santo Expedito, também,
É um dos mais recorridos;
E São Francisco somente
Recebeu recentemente
Mais de um milhão de pedidos!
Dessa forma, tendo em vista
Essa ocorrência infeliz,
Vários santos, liderados
Por São Francisco de Assis,
A Deus foram recorrer.
Com detalhes, vamos ver
O que a notícia nos diz:
“Céu, julho, 2020,
Atenção, muita atenção!
Para um fato inusitado,
De larga repercussão,
Que por sua envergadura,
Balançou a estrutura
Desta Sagrada Mansão!
Vários santos reunidos,
Com São Francisco na frente,
Foram juntos à presença
De Deus Pai Onipotente,
Para explicar que a Terra
Trava uma terrível guerra
Contra um vírus resistente.
São Francisco disse: – Venho,
Em nome de Jesus Cristo,
De quem sou imitador,
Só para vos dizer isto:
A humanidade vos clama,
Pois a Terra vive um drama
Que nunca se tinha visto.
Imaginai, Senhor Deus,
Canindé, minha cidade,
Conhecida em todo o mundo
Na religiosidade
E pela gente sofrida,
Passar o ano batida,
Sem minha festividade!...
Já vários colegas meus,
Convém o Senhor saber,
Não tiveram suas festas,
Pois não se pode fazer.
E do jeito que estou vendo,
Com esse desastre horrendo,
Nem minha festa vai ter.
São José pediu a vez
E disse: – no Ceará,
Onde sou o padroeiro,
Eu passei ao deus-dará,
Pois de diversos lugares,
O vírus mandou milhares
De suas almas pra cá.
Foi lamentável demais
A Capital Fortaleza
Não fazer a minha festa,
Foi a data uma tristeza!
São Roque, santo francês,
Pediu nesse instante a vez,
Para falar com clareza:
– Senhor Deus, a Vila Campos,
Que há cem anos me festeja,
Uma festa concorrida,
Muita bela e benfazeja,
Este ano está fadada
A não ter festa nem nada
Lá dentro da minha igreja.
Logo eu, que sempre fui,
Pelos devotos chamado
Pra combater peste e guerra
Desde o antigo passado,
Sem nada poder fazer,
Eu venho ao Senhor dizer
Que me sinto envergonhado!...
Santo Antônio disse: – Em nome
Dos colegas Pedro e João,
Venho dizer ao Senhor
Nossa grande frustração:
Devido à covid má,
Não tivemos arraiá
Nem fogueira nem balão...
Minha grandiosa festa
Na cidade de Barbalha,
Que todo ano acontece
Normalmente, nunca falha,
Em branca nuvem passou,
Pois a cidade enfrentou
E enfrenta essa batalha.
Padre Cícero falou:
– Senhor Deus, meu Juazeiro
Tem milhares de doentes,
E o Cariri inteiro.
Eu vos peço proteção
Para aquela região
De devoto e de romeiro.
Pronunciou-se também
Pela região Nordeste,
E Senhora Aparecida
Suplicou pelo Sudeste.
Várias representações
De estados e nações
Pediram o fim da peste.
E diversos outros santos
Falaram por sua vez,
Nossa Senhora do Carmo,
Santa Isabel, Santa Inês,
E até São Cipriano,
Perante o Deus Soberano
O seu desabafo fez.
Cofiando a longa barba,
Em silêncio Deus ouvia
O que a comissão de santos
Perante a Ele dizia.
Depois que a todos ouviu,
A palavra então pediu
E assim se pronuncia:
– Ouvi de vós vossas súplicas
E pedidos de clemência,
Porém sabeis todos vós
Que eu tenho total ciência
Do que na Terra se passa,
Seja vitória ou desgraça,
Eu sei de toda ocorrência.
Dei à Terra o dom da vida,
E ao homem, sabedoria,
De tal modo, que ele mesmo
Vai descobrir qualquer dia,
Através da medicina,
Definitiva vacina
Pra vencer a pandemia.
Sabe o homem fazer guerra
E fazer mísseis possantes,
Várias armas nucleares
Pra matar seus semelhantes,
Por que não sabe fazer
Armas para combater
Essas moléstias constantes?!...
Além disso, eu já lavei
As mãos pela humanidade.
Deixei água, ar e terra
Pra sua comodidade.
Mas foi o homem tentado,
E até eu fui vitimado
Por sua infidelidade.
Vós esqueceis, meus senhores,
Do caso de Adão e Eva?
Podem até esquecer,
Mas minha lei não releva.
Ambos, faltando juízo,
Deixaram meu paraíso,
Para mergulhar na treva!
São os homens, meus senhores,
Desse casal descendentes,
Minha criação primeira,
Minhas primeiras sementes.
Dei ao homem condição
De viver em união
Consigo e todos viventes.
Porém, o homem na Terra,
Com seu gênio de Caim,
Matou o meu próprio Filho,
Provando o quanto é ruim!
Escravo da hipocrisia,
Em caso de pandemia,
É que se lembra de mim!
O homem, ao próprio homem,
Para sempre está entregue.
E a despeito de tudo,
A Terra o seu curso segue.
Deve o homem procurar
Por si mesmo se livrar
De todo o mal que o persegue.
Para toda a humanidade,
Não mando o bem nem o mal.
Enquanto o homem constrói
Armas de poder mortal,
Devia era construir
Armas pra se prevenir
De tanto vírus letal.
Essa foi a informação
Bem transparente e precisa.
Deus recolheu-se ao seu trono,
Envolvido em leve brisa.
Em seguida, cada santo
Retornou para seu canto",
A notícia finaliza.
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