O
ANO QUE MORRE
Pedro Paulo Paulino
“Eu sou o Ano que morre
Nas mãos do Tempo que
corre,
Morro e ninguém me
socorre,
Nem mesmo adianta mais.
Contra as ordens
naturais
É sempre em vão
insistir;
Não deixem, pois, de
assistir
Aos meus instantes
finais.
Já vejo meu sucessor
Nascendo qual uma flor,
Cheio de luz e vigor,
Cercado de muita gente.
Vem chegando
alegremente
Numa noite barulhenta,
Com trezentos e
sessenta
Cada dia é como um
filho,
Cada ano um andarilho
Que passa através do
trilho
Do Tempo eterno e
profundo.
Todo ano é oriundo
Da noite e nunca do
dia,
Igualmente à maioria
Das criaturas do mundo.
Mas enquanto me
despeço,
Neste implacável
processo,
Aos homens da Terra
peço
Um instante de atenção.
Eu não tenho culpa
então
De tudo o que
aconteceu,
De quem nasceu ou
morreu,
De quem foi feliz ou
não.
Fui apenas referência
Num instante da
existência
E não tenho consciência
Do que é bom ou ruim.
Uns não gostaram de
mim,
Noutros deixarei
saudade,
Pois eu sei que a
humanidade
Toda a vida foi assim.
Mas vejam que
insensatez
Culpar o ano, talvez,
Pelos erros de vocês,
Desse modo assim
dizendo:
– O Ano que está
morrendo
Foi de perda e agonia,
De crise na economia
E de desmantelo
horrendo.
Foi um Ano pessimista
Que matou bastante
artista,
Esse Ano entrou pra
lista
Dos mais cheios de
horrores!
Então direi: – Não,
senhores!
Os anos, somos iguais;
Não somos causa,
jamais,
Das alegrias ou dores!
Eu não tenho culpa não
De guerra e destruição,
De tanta poluição
Por falta de
consciência!
Eu juro em minha
inocência,
Que também não sou
culpado
De o crime ter
aumentado
Por conta da violência!
Sou passageiro fatal
Desta nave sideral
Chamada Terra, na qual
O Tempo é senhor de
tudo.
E dito assim, fico
mudo,
Pois nessa eterna
viagem
O ano é nova embalagem
Para o mesmo conteúdo.
‘Adeus, Ano Velho’,
cantam;
Luzes no céu se
levantam,
As ilusões se
agigantam,
O Ano Bom aí vem
Novinho em folha;
porém,
Será velho logo mais
Como eu que um ano
atrás
Fui Ano Novo também!”
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