CORDEL SATÍRICO
No nosso grupo de amigos e companheiros de Cordel, em Canindé, uma prática muito comum sempre foi a fabricação de versos satíricos entre os poetas. Ninguém dispensa ninguém. Dessa malhação em versos, já contabilizamos uma grande soma de cordéis, alguns impublicáveis devido o tom apimentado; outros, nem tanto. Exemplo é este cordel que eu e Arievaldo Viana produzimos em 1998, a respeito da maratona do nosso confrade Jota Batista para ingressar na prefeitura.
Recém-saído da então Sucam, o renomado cmpositor abandou a árdua tarefa de exterminador de mosquito e procurou se abrigar sob as tetas da administração pública municipal. Tudo corria bem, até o dia em que o prefeito decretou concurso público para todos os servidores: garis, zeladores, motoristas, fiscal da iluminação pública e, para o setor da comunicação, repórter, redator e fotógrafo.
Foi nessa última categoria que se inscreveu o Jota. Displicente, sem pressa com nada, ele nem pegou no roteiro do conteúdo da prova. Depois de marchas e contramarchas, vejamos a seguir o resultado da prosaica empreitada, em versos satíricos salpicados de surrealismo:
Fazer um concurso público
Para no Paço ingressar
É assunto muito sério,
O cabra tem que estudar,
Queimar pestana, aprender,
Para depois ir fazer
E não se decepcionar.
Até mesmo em prefeitura
Que empregava à revelia,
Concurso é obrigatório,
Acabou-se a oligarquia:
Tem que estudar matemática,
Geografia, gramática
E até fotografia.
No concurso mais recente
Para ser um retratista
Se inscreveu na prefeitura
O senhor Jota Batista.
Nem a câmera possuía,
Tudo fez à revelia
Dando uma de artista.
Até que na prova escrita
O rapaz não foi ruim.
Respondeu 12 questões,
Uma delas era assim:
Quem descobriu o Brasil?
Disse o Jota: foi meu “til”
O Pedro Cabral Alvim.
Era a segunda pergunta
Mais difícil e complicada.
Quem foi que escreveu a carta
Primeira da pátria amada?
Disse o Jota: eu sou capaz,
Foi um tal de Pero Vaz,
Por alcunha “Caminhada”.
Quem disse a primeira missa
Desta terra brasileira?
Disse o Jota: essa é tão fácil
Que parece até asneira.
Fique sabendo você,
Foi o frei FHC
Num dia de terça-feira.
Quem descobriu a América?
- Outra questão inquiria.
Disse ele: foi Calombo,
Criatura santa e pia.
Sua caravela ela a Pinta,
Mas tinha a Nina retinta
E também Santa Maria.
Em questão de matemática,
Quantos são dois vezes dois?
Disse o Jota: essa é difícil,
Só vou responder depois.
E foi contando nos dedos…
Mas disse alguém em segredo
Que era um “baião-de-dois”.
Resolveu ele pescar
Numa questão bem dramática.
Qual o acento de ônibus?
Lhe perguntava a gramática.
Disse: 36, com fé,
Fora mais 18 em pé,
Isso é que é ser regra prática.
Conhecimentos gerais:
Quem foi o Napoleão?
Disse o Jota: nunca vi
Esse ente no sertão.
Eu não quero fazer arte,
Mas se foi o Bonaparte,
Era um grande canastrão.
Quem foi D. Pedro II?
Perguntava outro quesito.
Disse o Batista: por certo
Era um velhote esquisito
Que eu vi na nota de dez,
E nunca lavava os pés
E nem rezava o bendito.
Quem assinou a Lei Áurea
Que aboliu a escravatura?
Batista teve um acesso
De revolta e de bravura,
E lá no papel botou:
Foi o mesmo que inventou
Concurso de prefeitura.
Quem foi Zé do Patrocínio?
Perguntava outra questão.
Foi um patrocinador
De cachaça no sertão;
Já foi nome de farmácia,
Eu digo e não é falácia,
Esse Zé era um gangão.
E assim foi respondendo
E mantendo sua tática.
Pescava, “fazia cera”,
De maneira diplomática.
E o tempo foi passando,
Foram logo lhe chamando
Pra fazer a prova prática.
Arranjou uma “instantânea”
Com Manelzim, seu irmão.
Não tinha flash nem filme
E lente não tinha, não.
Faltava a câmara escura,
Parecia u’a rapadura
Ou u’a barra de sabão.
E adentrou a Matriz,
Valeu-se do padroeiro:
“Meu S. Francisco, me ajude
Nesse transe passageiro.
Sou manso igual um borrego
E careço desse emprego
Pra morar no seu terreiro”.
Porém, correu tudo errado,
Pois quando saiu a lista
Dos que foram aprovados,
Cadê o Jota Batista?!
Ficou só na solidão
E voltou pro violão.
Nisso, sim, ele é artista.
Lembro-me perfeitamente de quando foi feito este cordel. É quase da mesma safra de "DIABRURAS DE CÃO JAEL NO PALÁCIO DA VIÚVA", este também tão engraçado quanto o primeiro. Em diabruras retratamos as trapalhadas de um "mestre de cerimônias" que sempre botava o prefeito em maus lençóis. kkkkk
ResponderExcluirARIEVALDO VIANA
Como pesquisador amador considero o cordel de gracejo a meais interessante vertente desse gênero, que, sinceramente não precisa de defesa, impõe-se por seu valor intrínseco. Títulos como O Poeta e Boneca, Sodré e as Barafundas da História, Ganhou uma mota mais não sabia pilotar (sic), A peleja de dois mosquitos contra o negão de um olho só, Sir Robert X Dom Maurice, O Maior Vendedor do Mundo, títulos perdidos como Rasputin e a Czarina, são de rolar de na poeira de rir, nada devendo em sua verve aos melhores folhetos de um José Pacheco. Espero vê-los algum dia fazendo parte de uma polianteia (é o novo..kkkkk)
ResponderExcluirSefa,a coisa ta e feia um pouco mais de paciencia danada. e nao tire conclusoes... acho que tu nao esta vendo o que coloquei no alpendre....
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