terça-feira, 26 de julho de 2011



UM TEXTO DE COMÊNIO, O PAI DA PEDAGOGIA MODERNA

(...) Por 1540, numa aldeia de Hessen, situada no meio das florestas, aconteceu que um menino de três anos, por incúria dos pais, se perdeu. Alguns anos depois, os camponeses viram correr, juntamente com os lobos, um animal de forma diferente, quadrúpede, mas com face semelhante à de um homem; como, à força de falar no caso, a novidade se espalhou, o chefe daquela aldeia ordenou-lhes que vissem se havia maneira de o prender vivo. Em conformidade com esta ordem, foi apanhado e conduzido ao chefe da aldeia, e finalmente enviado ao príncipe de Kassel. Introduzido na sala do príncipe, pôs-se a correr, fugiu, e foi esconder-se debaixo de um banco, olhando com ar ameaçador e lançando terríveis uivos. O príncipe fê-lo alimentar-se entre os homens, e assim a fera começou, pouco a pouco, a tornar-se mansa, depois a manter-se direita sobre os pés e a caminhar como os bípedes, finalmente a falar com inteligência e a agir como homem. E então, o quanto podia recordar-se, contou que tinha sido raptado  e alimentado pelos lobos, tendo-se depois habituado a andar à caça com eles. M. Dresser escreve esta história no livro De nova et antiqua disciplina e recorda-se também de Camerário nas suas Horas, acrescentando outra história parecida.

[Coménio, João Amós. Didáctica Magna: Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos.Tradução do latim por Joaquim Ferreira Gomes. 4.ª ed. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996 – págs. 122-123.]
Comênio nasceu em 1592 na Morávia, situada na região leste da hoje República Tcheca. É considerado o pai da pedagogia moderna. Duzentos anos antes da criação do jardim de infância pelo alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel, Comênio esboçou o plano da Escola do regaço materno, onde as criancinhas seriam educadas de forma lúdica, com ênfase nos recursos audiovisuais, até os seis anos. Os dois fatos relatados por Comênio (há outro no mesmo livro) são confirmados em obras de filosofia. No Brasil, por exemplo, é feita uma breve alusão a casos dessa natureza no livro Filosofando: Introdução à Filosofia, de Maria Lúcia de Arruda Aranha, publicado pela Editora Moderna.

(Colaboração: Flávio Henrique M. F. Lima)

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