TEMPO DE APRENDER ERRADO
Pedro Paulo Paulino
Creio que ainda vale a pena falar aqui alguma coisa sobre a polêmica em torno do livro autorizado pelo MEC, que ensina errado nosso pobre-rico idioma. Não sou algum guardião da língua portuguesa nem pedagodo ou coisa que o valha. Também não pretendo mergulhar no assunto, tendo em vista que há muito não piso em sala de aula, sendo que a última vez ocorreu quando concluí meu curso Científico. Isto mesmo. Não faz tanto tempo; é que as coisas mudaram muito rápido. Aliás, fico meio às voltas com a nomenclatura do currículo escolar de hoje, que nos fala de Ensino Fundamental e Ensino Médio etc. Eu concluí o 2º Grau e pronto!
O que sei é que, quando estudante, ensinaram-me lições de concordância que prefiro mantê-las conservadas e bem zeladas nos recônditos da minha memória. Na aula de português, por exemplo, não me ensinaram que frases como “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, “nós pega o peixe”, “os menino pega o peixe”… estejam gramaticalmente corretas.
Pergunta: é verdade mesmo que o Programa Nacional do Livro Didático aprovou isso e o Ministério da Educação confirmou? Uma das autoras do livro, a professora Heloísa Ramos, declarou que “a intenção era deixar o aluno à vontade por conhecer apenas a linguagem popular e não ensinar errado”. Mas está ensinando errado. Não é objetivo da escola, dentre muitos outros, ensinar o aluno a falar e escrever corretamente? Quer agora a professora Heloísa Ramos inverter a ordem das coisas?
Transpor coloquialismo para a linguagem escrita sempre foi uma habilidade dos mestres da literatura, isto sem jamais ofender as normas da língua culta. O mineiro Guimarães Rosa, por exemplo, notabilizou-se, dentre outros dons, com sua genial invenção vocabular. Mas admito que autoridades acadêmicas pequem fundamente com inovações prejudiciais dentro do que chamam a “nova pedagogia”.
Mas, quem sabe se o assunto não desperta os dignitários do ensino para uma reflexão mais ampla? Se o livro polêmico adotado pelo MEC foi elaborado conscientemente por seus autores, quantos livros didáticos não andam por aí preparados inconscientemente para ensinar errado? Agora mesmo tenho em mãos um exemplar de livro didático intitulado: “Caminhos do Letramento – 2º Segmento do Ensino Fundamental, 5ª a 8ª Série”. É um livro belamente ilustrado, cheio de atrativos, adotado pelo EJA (Educação de Jovens e Adultos). Porém, na página 25, ensina que “A Terra está situada a 144 bilhões de quilômetros do Sol, sendo essa uma distância que favorece o surgimento e a manutenção da vida no nosso planeta”. Felizmente, muito antes aprendi que estamos afastados de nossa estrela-mãe milhões de quilômetros e não bilhões. A bilhões de quilômetros, o Sol nem favoreceria nem manteria qualquer espécie de vida na Terra – talez nem mesmo fosse visível. E o livro tem mais de 200 páginas!
Já o volume adotado pelo MEC tem o auspicioso nome “Por uma Vida Melhor”, da coleção “Viver”. E parece que pára por aí. A professora Heloísa Ramos e os outros autores do livro didático polêmico bem que podiam dar a mão à palmatória. Se a seu modo insistirem em ensinar a língua portuguesa nas salas de aula Brasil afora, quem vai acabar pagando o pato “é nossos jovem”.
Um dos principais argumentos dos "eruditos" para manter o cordel longe das escolas e da mídia em geral é justamente o fato de alguns poetas "escreverem errado". Tal afirmativa baseia-se, sobretudo, na produção de Zé da Luz, Catulo da Paixão Cearense,José Laurentino e Patativa do Assaré. Ora, a rigor, nenhum dos quatro poetas citados é CORDELISTA. O cordel sempre buscou escrever de maneira clara e sintonizada com as regras da gramática desde os tempos de Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde e José Camelo de Melo.
ResponderExcluirAgora que estamos vivendo outros tempos, a impressão que se tem é que as coisas estão "às avessas", onde o errado passa a ser o certo e vice-versa. É o espelho da modernidade refletindo a imagem distorcida da realidade pelo simples prazer de ser diferente.
Arievaldo está coberto de Razão. O cordel, aliás, sempre primou pela correção da língua, iclusive, pela riqueza do vocabulário. Os grandes romances da Literatura de Cordel têm construções linguísticas elegantes e termos tão atraentes quanto qualquer outro texto literário de qualidade. Quem observa o contrário, deve da mesma forma associar as festas juninas do Nordeste com tipos estereotipados e mal-vestidos.
ResponderExcluirEm tempos coetâneos, é sabido por todos que tudo vira moda, até mesmo o incorreto é aceitável com a maior naturalidade nesse mundo globalizado, onde a pressa é o que prevalece. Mas o que é inconcebível é por em cheque um dos maiores valores de uma nação que é a sua língua, o seu idioma. Esse aforismo de apenas deixar o aluno mais a vontade não é tão aprazível para algumas nações, pois já temos o mínimo de tempo para aprender o correto, imagina se esse exíguo tempo for desperdiçado com algo sem prestimosidade.
ResponderExcluirO comentário de ISNOTICIA reforça com muita sensibilidade o que escrevi sobre o assunto.
ResponderExcluirEssa polêmica suscita em mim somente uma questão pragmática: os concursos para acesso a empregos públicos e vestibulares, principalmente as provas de redação, também vão adotar o relativismo cultural que a obra discutida preceitua? Sim, porque nesta hora o que vale é a função normativa da gramática. Por esse caminho ninguém mais poderá ser reprovado, e de certa forma se decreta o fim da Literatura como arte e instrumento de preservação da língua de Camões e Machado de Assis. Mais uma vez se põe em xeque o badalado Ministério da Educação.
ResponderExcluirQUERO CRÊR QUE TUDO ISSO É PARA IRRITAR ALGUNS SEGMENTOS MAIS LETRADOS DOS BRASILEIROS, INCLUSIVE, ULTIMAMENTE ESSA FACÇÃO PETISTA TEM PROVOCADO PERIGOSAMENTE AS NOSSAS FORÇAS ARMADAS.
ResponderExcluirT. MARREIRO