sábado, 24 de agosto de 2019

ZÉ ADAUTO BERNARDINO, BOIADEIRO DO SERTÃO


Homenagem do Blog, ao boiadeiro Zé Adauto Bernardino, dos Sertões
de Canindé, Ceará, que nesta data completa 75 anos de idade.


Autor: Pedro Paulo Paulino

Antigamente o sertão
Tinha cabra bom de gado,
Vestido em roupa de couro,
No seu cavalo montado.
No campo ou no tabuleiro,
Sendo mesmo um bom vaqueiro,
Dava conta do recado.

Porém essa tradição
Está ficando pra trás.
O sertão modernizou-se,
O tempo tudo desfaz,
De modo que hoje em dia,
Vaqueiro como existia,
No sertão já não tem mais.

Naquele tempo também,
Afora o bravo vaqueiro,
Havia a forte figura
Do marchante boiadeiro,
Que percorria o estado
Comprando e vendendo gado
Por esse sertão inteiro.

Nesse ramo, há muito tempo,
Destacou-se um cidadão,
Um famoso boiadeiro
Que disso fez profissão
Pela força do destino:
Zé Adauto Bernardino,
Boiadeiro do Sertão.

No sertão de Canindé,
De São Francisco adorado,
Zé Adauto Bernardino
Foi nascido e foi criado,
Ali mesmo ele cresceu
E o tempo todo viveu
Da sua luta com gado.

Seu Manoel Bernardino,
O seu pai, foi fazendeiro,
Nome honrado e conhecido
Por esse sertão inteiro.
Sempre com gado lutou
E para o filho passou
A sina de boiadeiro.

A sina, ele soube honrar
Com prazer e alegria.
E seu traquejo no ramo
Foi crescendo a cada dia,
Pois mesmo ainda menino,
Zé Adauto Bernardino
Comprava boi e vendia.

Dos sertões dos Inhamuns
Aos sertões do Canindé,
Quixadá, Santa Quitéria,
Ou mesmo Baturité,
Zé Adauto percorria
Toda essa freguesia
Comprando boiada em pé.

Gado para abastecer
Os açougues da cidade,
Zé Adauto forneceu
Muito tempo, isso é verdade,
Pois enquanto trabalhou,
Boi gordo nunca faltou
Na sua propriedade.

Na sua luta constante
Percorrendo esse sertão,
O famoso boiadeiro
Encheu muito caminhão
De gado de todo jeito:
Touro, vaca, boi refeito
E até mesmo barbatão.

Por ser boiadeiro honesto
E muito prestigiado,
Dentre todos os colegas
Foi sempre o mais procurado,
Pois por ser bom pagador,
Quase todo criador
Vendia a ele seu gado.

Na sua luta com boi,
Comprovou ser competente.
Zé Adauto atravessou
Tanto seca como enchente,
Rio cheio transbordando,
Com ele atrás aboiando
E seu rebanho na frente.

Em meados de noventa
(Hoje mesmo ele é quem diz),
O Zé Adauto viveu
Seu momento mais feliz:
Com a grana que juntou,
Perto dE Campos comprou
A fazenda São Luiz.

E nessa propriedade
Trabalhava noite dia,
Com o gado na cocheira,
Muita vaca dando cria,
Tudo num clima de paz,
Junto com seu capataz,
O finado Zé Maria.

Porém, nem só de trabalho
É que vive um boiadeiro,
Porque ninguém é de ferro
Nem escravo do dinheiro,
Pois fora a luta com boi,
Zé Adauto também foi
Um boêmio verdadeiro.

Chapéu quebrado na testa,
Cigarro aceso na mão,
Muita conversa e aboio,
Na mesa ou pé do balcão,
Mulher bonita enfeitada
E cerveja bem galada
Foram sua perdição.

Valente que nem o diabo,
Para o que der e vier,
Cansou de virar a noite
Rodeado de mulher,
O trinta e oito do lado
E o fusca azul encostado
Na porta do Vai-quem-quer.

Sempre no final do dia,
Depois da luta do gado,
Para refrescar o corpo
E se livrar do enfado,
Tirava o pó da peleja
Com a gelada cerveja
E o cheiro da “Cachiado”.

Também nos bares do centro,
Para esquecer o cansaço,
Zé Adauto Bernardino
‘Boemou’ sem embaraço,
Falando em alto e bom som,
Do balcão do Macilon
Para o bar do Chico Passo.

Mas o grande boiadeiro
Zé Adauto Bernardino
Encontrou uma senhora
Para guiar seu destino,
Pois sua vida mudou
No dia em que se casou
Na família de Paulino.

Aquele povo dos Campos
Muito alegre o recebeu,
E com eles, desde então,
Zé Adauto conviveu;
No tempo de rapaz novo,
No meio daquele povo
Muita coisa ele aprendeu.

Hoje, lembra com saudade
Da sua camionete,
Da sua filha querida,
Nossa saudosa Edinete;
Mas tem a filha Maria,
E pra maior alegria,
Sua amada esposa Onete.

Tem ainda o Manoel,
O seu neto e companheiro,
Um menino inteligente,
Só não sei se é herdeiro
Do gosto pelo sertão
E também da vocação
Do seu avô boiadeiro.

Zé Adauto Bernardino
Hoje está aposentado,
Já não sai mais do seu rancho,
Onde vive sossegado,
Sentindo o peso da idade
E morrendo de saudade
Da sua vida de gado.

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