terça-feira, 15 de novembro de 2016

INDULTO DOS PASSARINHOS

Pedro Paulo Paulino

É cruel, sem coração,
Quem por si mesmo condena
Um passarinho à prisão,
Sem crime cumprindo pena.
É triste ver o bichinho
Preso longe do seu ninho,
Sem ninguém para o soltar.
Réu inocente, indefeso,
Que canta quando está preso,
Porque não sabe chorar.

E se soubesse, talvez
Praticava a própria morte,
Para se livrar de vez
De tão miserável sorte!
Porém, não! Seu negro fado
É penar encarcerado
Na detenção que o priva
De curtir a natureza
Em toda a sua grandeza
Tão bela e convidativa.

Quanta angústia não poder
Soltar na mata seu voo
Ou pelos galhos fazer,
De manhãzinha, seu show!...
Cantar como um trovador
Seu belo canto de amor
Ou quem sabe de saudade.
Cantar ao sabor do vento,
E não cantar seu lamento,
Confinado atrás da grade.

Preso, como um malfeitor,
Não se ouve o seu gorjeio,
Porque toda vez que for
Isolado do seu meio,
O passarinho entristece,
Amanhece e anoitece
Em sua rotina aflita.
Pobre ave engaiolada,
Vítima desesperada
De solidão infinita.

Ao redor, a mata amiga,
Seca ou verde, pouco importa,
Não ouve mais a cantiga
Do passarinho – está morta,
Sentindo a falta do dono,
Na primavera, no outono,
No inverno e no verão,
Pois num momento infeliz,
Sem sentença de juiz
Ele foi para a prisão.

Encarcerado e refém
De um calabouço profundo,
Um inferno para quem
Vivia livre em seu mundo;
Sem praticar um delito,
Sem ninguém ouvir seu grito
De protesto a vida inteira!
Passarinho desditoso,
Nem o mais vil criminoso
É preso de tal maneira!

É crueza das mais graves
Alguém se tornar algoz
Ou carcereiro das aves
Que livres cantam pra nós.
Asas querem liberdade!
Tolhê-las é crueldade,
Pois se você pode andar
Por onde e quando quiser,
Passarinho também quer
Ser livre para voar!

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