quinta-feira, 25 de junho de 2015

RESENHA


A DIVINA ORGIA DE ‘AMADADAMA’

Pedro Paulo Paulino

O mais novo livro de contos do premiado escritor Raymundo Silveira tem como nome “AMADADAMA”. A exemplo de “Lagartas de vidro”, lançado em 2011, este segundo volume chega enriquecido por qualidade literária em primeiro lugar, a escrita cristalina, o lampejo da ideia e a oferta generosa de palavras e de construção textual atraente para o leitor mais insaciável.
“AMADADAMA”, 182 páginas, traz o selo da Editora Premius de Fortaleza, reúne ao todo 42 peças literárias e vem divido em duas partes, ou Livro I e Livro II. No primeiro repertório encontram-se os contos eróticos, não obstante, a meu ver, a adjetivação passe indiferente ao gênero de leitor que, a partir logo do primeiro conto (aliás, nome do livro), mergulha na leitura pelo mero prazer que esta lhe dá, convidando-o a seguir até a última página. O leitor mais pundonoroso poderá por sua vez estranhar o tema e até, com frequência, a linguagem dos contos iniciais; já o leitor, digamos, neutro não verá excessos na abordagem aberta e franca de uma condição tão imperativa a todo ser que vive.
Pois nessa sequência de contos a narrativa é tomada por uma descarga fulminante de erotismo, sem contudo se desgarrar jamais da fineza literária e da elegância de estilo. O autor consegue, de envolta com o arrepio da trama, transmitir para o leitor a volúpia da inspiração, o ardor da chama criativa, em enredos envolventes quase sempre com um final cheio de êxtase, a exemplo do conto “A vizinha” que, duvido, alguém consiga deixar de ler ao começar. E diga-se o mesmo de “A possuída”, “Sarita”, “Carne viva”, “A analista”, assim por diante. A ideia dominante em todas essas narrativas é, não há dúvida, a beleza e a sensualidade femininas, de vez que é a feminilidade a “forma fundamental da vida humana”, como observa o contista, ao tratar da relação carnal por meio de uma linguagem despida e clara.
No segundo repertório de contos de “AMADADAMA”, que soma exatamente 25 peças, o leitor poderá se refestelar com temática variada. Em todos eles, entretanto – eróticos ou não –, são inexistentes as figuras do vilão e do herói. O autor é parcimonioso ainda com descrições paisagísticas, voltando-se com exclusividade e percuciência para o elemento humano e seu vasto e infinito universo interior. Primeira e terceira pessoas coabitam harmoniosamente em todos os enredos, e os diálogos acontecem de maneira espontânea, sem prejuízo do entendimento da obra. Reflexão, considerações filosóficas e um poderoso fundo psicológico são características notáveis também nessa segunda seleção de contos. A começar por “Vaso vazio”, vamos identificar em “Tensão”, “Sacrifício”, “O charcuteiro”, “O fabricante de espelhos”, “O criacionista”, “O mistério de Capitu” e, praticamente em quase todos, a força da subjetividade por trás de argumentos puramente engenhosos e aprofundados.
O segundo livro de contos de Raymundo Silveira é, como foi dito, uma obra literária de fino gosto; por isto mesmo, tem o mérito de superar qualquer tabu. E, por ser lapidado conforme limpidez e garbo de estilo, chega-se à inevitável conclusão de que está, acima de tudo, na Arte e leveza de bem escrever a maior e divina orgia de “AMADADAMA”.

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Lançamento: 30 de junho, 19h, sede da UNIMED, av. Santos Dumont, 877, Fortaleza.
Disponível na Livraria Cultura. Preço: R$ 24,90.

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