segunda-feira, 27 de maio de 2013

A VAQUEJADA

Autor: Alberto porfírio

Meus Deus, eu nasci no mundo
Mais feliz do que ninguém!
O patrão me tem estima
E o gado me quer bem,
Quem tem tudo o que precisa,
O que não precisa, tem.

O maior prazer que existe
No coração do vaqueiro
É ver o gado bem gordo
Pastando no tabuleiro,
Ele também com saúde,
Não interessa dinheiro.

A viola e meu cavalo
São o que me faz sorrir.
O cavalo é quem me leva
Ao lugar que eu quero ir,
E a viola é porque toca
Para eu me divertir.

Meu cavalo e meu cachorro,
Minha sela e meu gibão.
O amor da minha nêga
E a estima do patrão,
Só quero isso na vida,
E na morte, a salvação.

Meu gibão tá pendurado
Lá no torno da parede,
Meu cavalo na cocheira
Não passa fome nem sede,
Meu cachorro é meu vigia,
Dorme debaixo da rede.

É triste ouvir-se o lamento
Do vaqueiro fracassado
Que vai campear a pé
Ou em cavalo emprestado.
Eu tenho cavalo e sela
E amo a vida de gado.

A única coisa que faz
Um vaqueiro entristecer
É gado urrando com sede
Na cacimba de beber,
E o dono cavando areia
Sem a água aparecer.

Não tem pobre sem orgulho
Nem rico sem ambição,
Não tem bem como de mãe
Nem juiz como a razão,
Não tem céu como o de Deus
Nem terra como o sertão.

É difícil a gente vê
Moça bela vitalina,
Mas a vitalina feia
Se vê em qualquer esquina,
Umas esperando a sorte,
Outras lastimando a sina.

O rapaz namorador
Deve prestar atenção,
Só querer moça bonita,
Que é pra ganhar na questão,
Quando o delegado vê,
Diz: “Cabra tem razão”.

Um ano ruim de inverno
Que entristece o fazendeiro,
Boi que chora de dor
Onde morre o companheiro,
São coisas que entristecem

O coração do vaqueiro!

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ALBERTO PORFÍRIO 
Alberto Porfírio da Silva é poeta popular, xilógrafo e escultor. Nasceu no município cearense de Quixadá, em 23 de dezembro de 1926. Estudou depois de idoso, quando as condições lhe permitiram e é professor licenciado pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Como cantador-repentista, recebeu das mãos da Condessa Pereira Carneiro, do Jornal do Brasil, uma menção honrosa especial. Ministrou cursos de cantoria pelo rádio, publicou o livro "Poetas Populares e Cantadores do Ceará" e quase uma centena de folhetos de cordel. Tem seu nome reconhecido internacionalmente através da enciclopédia francesa Delta Larousse. Alberto porfírio morreu no dia 23 de setembro de 2009.

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