segunda-feira, 10 de setembro de 2012


No dia 31 de agosto de 2012, aconteceu a noite de autógrafo em que foi apresentado ao público canindeense o livro “Raimundo Marreiro – Poeta Popular”, de autoria de Tonico Marreiro. A publicação enfeixa o trabalho poético deixado pelo nome mais conhecido no Sertão Central, na seara do cordel e do folclore. Tonico Marreiro, filho do poeta, rompeu a fronteira da tradição oral e reuniu em livro o supra-sumo do trabalho do pai, a partir de manuscristos deixados pelo poeta, em um caderno que ele mesmo intitulou “Autocrítica”. A resenha a seguir é de Silvio R. Santos, ajudante deste blog. 

UM LIVRO NECESSÁRIO OU UMA
PERSONIFICAÇÃO DO FOLCLORE

Tonico Marreiro autografando
Sylvio R. Santos

O livro Raimundo Marreiro – O Poeta Popular, lançado no dia 31 do mês passado,  no auditório da loja maçônica de Canindé foi gestado, talvez, durante a vida toda do seu autor Tonico Marreiro. Trata-se de uma obra de amor filial que traça um amplo panorama histórico, familiar, cultural, de uma cidade, de uma família e seu patriarca amado. Se Ricardo Ramos chamou à biografia que escreveu do pai Graciliano Ramos de Retrato Fragmentado, o mesmo não poderia ser dito do livro aqui em questão. Vai-se desde os anos de formação, no comovente Autocrítica, um depoimento em que a razão de ser do poeta apresenta a si, com plena consciência de sua potencialidade como artista. Logo nota-se que sua vocação nada traz de vaidade, mas de uma necessidade sincera de materializar seu pensamento em versos, motivado, quem sabe, pelo exemplo de seu avô Manoel Marreiro da Cunha. Vocação plenamente realizada em tantos versos , culminando na primorosa defesa de Nó-de-Cana. Mas o que sobretudo motiva o leitor, e faz com que leia o volume de Tonico de uma “sentada”, além de toda poesia do grande Raimundo Marreiro finalmente ali editada, é o fator humano que move a obra. Afinal conta ali a formação de uma família, a sua, com as adversidades, o romantismo de então, mas como o poeta dissera em seu depoimento inicial, bem era consciente de que com poesia só deixaria de patrimônio para a família fama. Portanto, desde bem cedo, não se furta ao trabalho, principalmente depois do casamento com sua musa petrarquiana Laura, quando após, com não pouca dedicação, alcança o sucesso como empreendedor. Como bem disse Lia Silveira na apresentação do lançamento: “Memória e história são a linha e a agulha com as quais esse texto é tecido. Mas ao contrário do que se possa pensar, esse tecido não porta apenas uma camada de significação. Memória e história, aqui, muito mais do que um relato de acontecimentos lineares e cronológicos, formam uma trama que vai se formando também permeada por afetos, emoções e sentimentos.” Sim, porque ao tecer a biografia de seu amado pai o filho-autor também nos apresenta a sua própria memória de vida, e, de forma generosa a de tantos outros,  de homens sérios e outros muito menos. Quem por aí sabe por que alguém se chamaria “Porca-Ruiva ou Pedro da Nega”? Personagens há muito apagados da histórica local como os da pitoresca família de músicos Engraça; a famosa “câmara-de-gás” onde meu próprio pai trabalhou como sapateiro ao lado do filho pródigo poeta Natan Marreiro; o surreal Circo da Onça, de que tanto ouvi falar quando menino, mas do qual nunca cheguei a ver as atrações. Todos esses fatores demonstram a personalidade múltipla do admirável Raimundo Marreiro: poeta, marido, pai amoroso, balconista, encarregado, artesão, empreendedor, mecenas, circense, rábula, pioneiro na comunicação em massa, folclorista e tantas outras vocações que se enfeixaram num ser humano ímpar. Estas linhas dão somente uma imagem bem esmaecida da obra. Mas o autor tem razão ao sentir-se apartado dos tempos idos. A cidade que apresenta parece mesmo de ficção, vide como único exemplo as rinhas de canário, evento folclórico banido pelo ecologicamente correto. Talvez ainda estejam para ser escritos versos mais belos sobre Canindé:

"Esta cidade
Que para mim tem encanto
É a cidade do Santo
Imitador de Jesus.
Quando o romeiro
De longe vai avistando
Seu peito vai se inundando
De ternos raios de Luz".

Amante da vida em todas as suas nuances, mesmo perante a morte o poeta nos legou essa trova antológica, que penso ter conhecido na voz de Carvalho Nogueira:

"Aqueles que choram tanto
Por um alguém que falece
Não adianta esse pranto
Melhor seria uma prece".

Tonico demonstra que é saudosista, mas sem hostilizar a tecnologia atual, afinal o teclado do seu notebook Dell porta o batismo das lágrimas do rito de iniciação de um autor comovido.

9 comentários:

  1. Muito agradecido meu dileto amigo Silvio Roberto. E voce prezado amigo, é, sem sombras de dúvidas, um guardião amoroso da cultura canindeense.

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  2. Sem Palavras..me encontro sem palavras..

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  3. Bela resenha Silvio! Bem à altura da obra...obrigada pela citação. abraços

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  4. Bela resenha, Sílvio!Bem à altura d aobra..e obrigada pela citação...rs
    Abraços

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    1. Foi uma honra, minha cara. Sua apresentação é que deveria estar aqui.

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  5. Uma apresentação bastante eloquente da obra e do personagem biografado. A história nos ajuda a viver o presente com mais sabedoria, pois preserva principalmente o lado positivo de pessoas e dos fatos pretéritos, no que eles tem para ensinar as gerações futuras a viverem uma vida mais completa, com uma visão mais ampla do mundo, sobretudo com a saudável crítica do lado negativo e às vezes decadente da sua contemporaneidade, visto que o progresso material vem acompanhado também de retrocessos em outras facetas da existência, sobretudo da cultura.

    Flávio Henrique

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  6. Estive presente a este magnífico evento. Foi um momento historicamente cultural, principalmente para os saudosistas que estiveram presentes naquele momento, na qual foram lembrados alguns fatos importantes acontecidos em determinadas épocas.

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    1. Onde se escondeu, Isaac? também estive por lá...

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    2. Pois então, só consegui ver o PPP e o Mário Lira.

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