quarta-feira, 11 de julho de 2012

CORDEL HISTÓRICO


Um matricídio acontecido em Fortaleza, em 11 de maio de 1963, motivou o poeta Joaquim Batista de Sena a escrever esse cordel, relatando a tragédia de grande repercussão no estado. Nascido em 21 de maio de 1912, na Fazenda Velha, hoje pertencente ao município de Solânea, Paraíba, Sena foi editor e autor de dezenas de folhetos. Este ano transcorreu seu centenário. O poeta morreu no início da década de 90, no distrito de Antonio Diogo, em Redenção, Ceará. 

HISTÓRIA DO FILHO
QUE MATOU A MÃE


Autor: Joaquim Batista de Sena

Leitores, mais uma história
De terror e de tristeza
Do infausto matricídio
Da Capital Fortaleza
Só Deus do céu julgará
Crime desta natureza

No dia 11 de Maio
Às duas da madrugada
Na rua Rodrigues Júnior
Foi esta cena passada
As graças estavam suspensas
O céu de porta fechada

Dominava nesta hora
A legião infernal
Agindo nos 4 pontos
Deste globo universal
Contra aqueles sem domínio
Sem lei, sem Deus, sem moral

Foi quando Francisco Nunes
Pelo demônio tentado
Matou sua própria mãe
No flagrante do pecado
Por achá-la em adultério
Com o genro, e seu cunhado

Agora, Caros Leitores
Segundo li no jornal
Contarei como se deu
O crime horrível, brutal
Que abalou todo povo
Do sertão à Capital

Por Francisco Nunes Neto
Assina o filho assassino
Que matou a própria mãe
Com o seu instinto ferino
Dominado pelo ódio
Como louco em desatino

Valmira Nunes Ferreira
O nome da genitora
Residia em Capistrano
Reeleita Vereadora
Contava 40 anos
Porém muito encantadora

Também era Presidenta
Da Câmara municipal
De Capistrano de Abreu
Esportista social
Tendo uma filha casada
Morando na capital

Era muito conhecida
De todo povo daqui
Automobilista igual
A Valmira nunca vi
Teve o primeiro lugar
Na corrida do Pici

Gostava muito dos homens
Pelo seu modo esportista
Tinha fama no guidom
De grande automobilista
Por isso que todo povo
Sempre lhe tinha de vista

Por Francisco Nunes Filho
Assina-se o seu esposo
Residente em Capistrano
Comerciante forçoso
Industrial abastado
Um homem honesto e bondoso

Tendo a Senhora Valmira
Mais uma filha casada
Residindo em Fortaleza
Na Rua denominada
De placa Rodrigues Júnior
Sendo ali sua morada

Voltando ele duma farra
A uma da madrugada
Foi a casa do cunhado
A qual estava fechada
Pôs-se ali de vigilância
Como um leão, de emboscada

Pra descobrir o segredo
Ele com toda cautela
Ficou prestando atenção
Alta noite em sentinela
Olhando o que se passava
Pelas brechas da janela

Até que colheu de fora
Essa cena depravada
Sua mãe sahir dum quarto
A uma da madrugada
Ela em trajes de dormida
E com o genro abraçada

Naquele mesmo momento
Todo ódio lhe arrojou
Deu com força na janela
Quebrou a porta e entrou
Diz ele que nesta hora
Não sabe o que se passou

Bateu mão de seu revólver
Tremendo encolerizado
Atirou diversas vezes
Contra a mãe e o cunhado
Só vindo a dar cor de si
Depois do caso passado

No tiroteio tremendo
Sua mãe foi atingida
Por três balas de revólver
Logo ali perdeu a vida
Na hora do adultério
Morreu na cama estendida

O Senhor Francisco Pereira
Correu bastante ferido
Na rua Santos Dumont
Das roupas quase despido
Mas o cunhado pegou-o
Como um lobo enfurecido

Deu-lhe diversas facadas
No homem já baleado
Assim ele exterminou
A vida do seu cunhado
Deixando ali o cadáver
Naquela rua estirado

Foi preso neste flagrante
Depois também exigido
Na presença da justiça
Contou todo acontecido
Daquela triste tragédia
Sem mostrar-se arrependido

No outro dia o enterro
Do ilustre Advogado
Seguiu para o Campo Santo
Muito bem acompanhado
No Cemitério São João
Foi ele então sepultado

Enquanto o outro cadáver
Na tarde daquele dia
Foi feito no necrotério
Um exame de autopsia
E seguiu para o enterro
Com bem pouca companhia

Leitores, fiz estes versos
Segundo li nos jornais
Como se deu a tragédia
Não botei nada de mais
Respeitei toda Censura
Versando as frazes iguais


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