segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012


UMA PROFECIA QUE DEU CERTO

Pedro Paulo Paulino
O serviço de meteorologia anunciou, ainda no começo de janeiro deste ano, que começaria a chover no Ceará a partir do dia 15 de fevereiro. Dito e feito. Nesse dia, em quase todo o Estado houve ocorrência de chuvas que continuam a cair. Desconheço uma previsão de tempo, pelo menos para nós, tão precisa como essa feita a longo prazo, pois sabemos que esse tipo de prognóstico, via de regra, tem validade de, no máximo, 72 horas. Acontece que, desta vez, os climatologistas foram mais longe e verdadeiros. Será que podemos, doravante, depositar nossa quase total confiança nos institutos de pesquisa meteorológica, a exemplo da Funceme, o órgão governamental que estuda o tempo?
Em princípio, desde a Segunda Guerra Mundial, que a previsão do tempo já devia oferecer uma margem de acerto mais satisfatória, levando em conta a aplicação da alta tecnologia nessa área. Mas, é exatamente isso o que está acontecendo agora.
Desde os balões meteorológicos, ainda em uso, aos satélites; do rádio ao computador nos dias de hoje, é natural que se exiga uma dose a mais de precisão do serviço meteorológico. Aliás, a palavra meteorologia, que designava um ramo da física especializado no estudo dos meteoros, já perdeu o seu sentido exato. Hoje, a meteorologia ocupa-se não só em informar a condição do tempo, avisando a chegada de tempestades, geadas, enchentes e secas, bem como o teor de ozônio na estratosfera em plano global, assunto de interesse vital para o meio ambiente. Já em regiões castigadas por vulcões, terremotos, maremotos etc, a previsão do tempo é também de grande importância para a vida humana. É ainda imprescindível seu emprego na navegação aérea e marítima.
A combinação de um grande volume acumulado de conhecimento sobre o tempo com os recursos sofisticados da tecnologia está permitindo cada vez mais uma compreensão em larga escala dessa coisa altamente complexa que é o clima no planeta Terra. Admitamos, assim, que o acerto nas previsões está se tornando possível e mais preciso devido também a uma interação global de vários órgãos – como  o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) – e estações de pesquisa climática, com seus aparelhos centrados em terra, mar e céu. Considerando que o clima é um entrelaçado contínuo por toda a Terra, seus efeitos são do tipo dominó. Por isso, com prognósticos sempre mais categóricos, os estudiosos do tempo estão oferecendo um serviço de caráter essencial à vida na terra em todos os seus aspectos, da economia ao lazer.
No Nordeste brasileiro, principalmente, a previsão do tempo é de forte importância para a economia. As secas no semiárido que durante longas décadas aconteceram como uma doença de etiologia desconhecida tiveram um diagnóstico aprofundado nos últimos tempos. Sabemos, por exemplo, que é uma doença sem cura e recidiva. Mas, mesmo assim, já conta com paliativos de efeito positivo, porém inúmeras vezes mal aplicados. Pelo menos o alerta de uma nova síndrome deixa o povo nordestino mais precavido sobre os efeitos.
Por outro lado, o aviso seguro de boas chuvas é capaz de despertar o uso mais sensato das águas mandadas por São Pedro, seja na agricultura, como é o caso da distribuição a contento das sementes para plantio, seja no acúmulo sustentável de água para o consumo humano, através da construção de cisternas e outros reservatórios. Em outras palavras, não é concebível ficarmos ao deusdará da indulgência das nuvens e da piedade do sol, quando o uso racional dos recursos naturais é plenamente possível.
Mas voltemos a enfatizar nossa admiração pelos acertos na previsão das chuvas deste ano, anunciadas para o dia 15 de fevereiro pela meteorologia. A precisão com que a profecia foi confirmada poderá, a partir de agora, repetir-se. E isto é algo que, daqui para frente, induz a um condicionamento de nossas expectativas de inverno com os prognósticos dos especialistas. Ou seja, errar da próxima vez, pode pôr tudo por água abaixo, novamente. 

5 comentários:

  1. Caro PPP, até bem pouco tempo as observações do tempo eram feitas pelos navegadores. Fiz muito isso. Observações codificadas eram repassadas para o serviço da marinha a qual fazia as previsões meteorológicas baseadas nas muitas informações repassadas pelos navios. Hoje as observações são feitas por satélites, com margem de acerto acentuada. Grande abraço
    Capt. Ari

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  2. Prezado PPP,previsões e acertos à parte, desde cedo o nordestino deposita suas esperanças de dias melhores num período e chuvas generoso, quando existe a abundancia de alimentos para homens e animais; sempre no inverno a paisagem muda como por encanto, surgindo aos primeiros borrifos de chuva, alfombras de relva virente e flores olorosas,Domingos Olimpio no romance Luzia Homem.

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  3. A previsão do clima, nos dias de hoje, é fortemente baseada na ciência da computação aplicada, por meio de programas supercomplexos que trabalham com múltiplas variáveis, cujos valores são conhecidos através de satélites, balões meteorológicos e medidas de temperatura no mar e no ar. Recentemente tivemos notícia da compra de um supercomputador para o INPE. Muitas teses de doutorado foram desenvolvidas na área de programação e análise de sistemas aplicada à previsão do clima.
    Como já dissemos nesse blog em outra oportunidade, o INPE é há muitos anos dirigido por um cearense de 55 anos, Gilberto Câmara Neto, cientista com formação em engenharia eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica e especializado em computação aplicada à meteorologia.
    Como dizia o geógrafo Caio Lóssio Botelho (vide pequenos relatos bibliográficos no Google), na década de 90, somente a Teoria do Caos (um ramo da moderna matemática) poderia explicar e prever a enorme complexidade do clima.

    Flávio Henrique

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  4. Prezado Pedro Paulo Paulino,

    Você sabe que o sertanejo para descobrir se vai ocorrer um bom inverno ele se orienta pelas transformações das árvores, o comportamento dos animais na natureza, a circulação dos ventos, a posição das estrelas, etc.

    Certa vez estava visitando uma família na zona rural do município de Itatira, na oportunidade conversando sobre o inverno na região; o pessoal daquela casa informou que uma equipe de Fortaleza estivera lá fazendo pesquisa sobre as condições climáticas onde pernoitaram com alguns aparelhos no terreiro da casa.

    Quando os pesquisadores dormiram em sua residência, lá para as 23:00 horas o chefe daquela família disse: olhe, vocês devem retirar os aparelhos porque vai chover durante a madrugada!
    Eles disseram: aqui em nossos aparelhos não está acusando nada, mas nós vamos ficar no alpendre, qualquer coisa a gente corre e retira os aparelhos.
    Lá para a madrugada começou a chover e eles ficaram intrigados com a mensagem de advertência do homem!
    O dia amanheceu e eles perguntaram: porque o Senhor disse que iria chover e na verdade aconteceu?
    Ele disse: é porque quando um jumento que nós temos aqui, começa a se encostar nas biqueiras é porque vai chover!
    Um dos pesquisadores disse: mas rapaz, a gente passar tanto tempo estudando em uma faculdade para perder para um jumento em uma noite é de lascar!

    Francisco Freitas
    Canindé/Ce

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  5. Muito engraçada a história, além de espirituosa. Acredito com toda a segurança nessa capacidade do jumento, mesmo porque a erudição e acúmulo de conhecimento acadêmico não significam sabedoria nem bom senso, virtudes que têm uma dimensão espiritual que a civilização tecnológica vem perdendo nos últimos séculos, gradativamente, com o divórcio entre a ciência e a filosofia e até mesmo entre as diversas disciplinas científicas, que perderam a unidade e o sentido da síntese.
    Verdadeira ou não a história do ponto de vista fático, na sua essência ela é perfeitamente verossímil, visto que os animais têm uma percepção instintiva dos fenômenos da Natureza, virtude que os homens da Antiguidade também tinham.
    Se as aves migratórias voam milhares de quilômetros, às vezes em alto-mar, sem se perder, façanha que o homem só consegue com instrumentos náuticos complexos, por que não admitir que elas são guiadas por uma sabedoria superior que a ciência ainda não pôde explicar, não obstante a aparente simplicidade e pequenez do cérebro desses animais? E é com essa sabedoria inata que os animais preveem os fenômenos da Natureza, dando sinais que só o bom observador é capaz de interpretar.

    Flávio Henrique.

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