terça-feira, 17 de janeiro de 2012


O GIGANTE DA TEORIA
DO CONHECIMENTO

Colaboração: Flávio Henrique

Immanuel Kant nasceu em 1724, em uma cidade da então Prússia Oriental, Königsberg, hoje denominada Kaliningrado, que fica em uma província russa de mesmo nome, situada entre o Mar Báltico, a Lituânia e a Polônia. Kaliningrado é também famosa pelo problema das sete pontes de Königsberg, resolvido pelo grande matemático suíço Leonhard Euler em 1736, façanha relatada em diversos livros de história da matemática, dentre eles um recente, O Último Teorema de Fermat, de autoria de Simon Singh.
Unindo o empirismo inglês, em que predominava o raciocínio indutivo, com o racionalismo cartesiano, fundado no raciocínio lógico-dedutivo, Kant operou uma mudança radical na epistemologia (Teoria do Conhecimento), inaugurando uma revolução na filosofia que  ele mesmo comparava à  revolução que Copérnico,  com a sua teoria heliocêntrica, operou na astronomia. Sua obra maior, A Crítica da Razão Pura, é um monumento da história da filosofia ocidental, tendo sido pela primeira vez publicada quando Kant tinha já a idade de 57 anos, do que se conclui que o seu pensamento levou muitos anos para amadurecer. A Crítica abalou as estruturas da metafísica escolástica, demonstrando que a razão humana é incapaz de provar a existência de Deus e de conceber a  infinitude  ou não do tempo  e  do espaço, caindo em contradição (os paralogismos da razão pura) ao tentar provar uma coisa  ou outra. A obra de Kant deu uma sustentação mais  sólida à ciência  moderna, que havia nascido  no século XVII, mas ao mesmo tempo  impôs limites à capacidade  da razão humana de compreender o universo tal como ele é na realidade, sobretudo  porque o  tempo e o espaço, da forma como  os concebemos, são inerentes à consciência humana, e podem ser na realidade  muito diferentes  daquilo que se apresenta aos nossos sentidos. A propósito, as faculdades extrassensoriais humanas, principalmente a telepatia e a visão à distância, reconhecidas e estudadas  pela parapsicologia (que é uma ciência), são uma prova disso, visto que certos seres humanos podem ver  o que se  passa a quilômetros de distância, bem como comunicar-se com outras pessoas vencendo  as barreiras do tempo e do  espaço. Dentre os inúmeros fatos relatados na literatura, destaca-se a visão  do cientista e  místico sueco Swedenborg, que, na presença de outras pessoas, narrou, de Gotemburgo, a mais de 400 km de distância, um  incêndio que acontecia no momento em Estocolmo,  
Kant foi também um destacado cientista. A sua obra História Natural Universal e Teoria do Céu, de 1755, tornou-se famosa por conter os fundamentos da hipótese segundo a qual o sistema solar ter-se-ia originado de uma nebulosa, uma nuvem de gás que se foi condensando devido à gravidade. O matemático, físico e astrônomo  francês Pierre-Simon Laplace (chamado o Newton francês), quarenta anos depois, formulou a mesma hipótese, sem saber que havia sido precedido por Kant, visto que a citada obra deste teve escassa circulação. Devido à independência da descoberta dos dois, essa hipótese foi denominada Teoria de Kant-Laplace. A Hipótese Nebular é reconhecida como a primeira teoria moderna da formação do sistema solar e é precursora das atuais teorias da formação das estrelas. Aliás, em 1734, quando  Kant tinha ainda dez anos de idade,  Swedenborg publicou uma obra em que apresentava  uma teoria nebular sobre a formação dos planetas. Portanto, é possível que a teoria de Kant não tenha sido inédita.
Kant foi um exemplo de estoicismo prático: com uma saúde frágil desde a infância, teve de levar uma vida extremamente metódica e disciplinada, acordando pontualmente às 5 horas da manhã e à tarde, às 15:30, chovesse ou fizesse sol, fazendo a sua caminhada diária numa alameda de tílias perto de sua casa. Preferia levar uma vida frugal a ser assistido por médicos. Giovani Reale e Dario Antiseri (obra citada) dizem que a Kant interessava apenas o saber e a pesquisa, não a carreira acadêmica, nem a fama e a riqueza material, como o demonstra o fato de ter recusado, em 1778, uma cátedra em outra universidade, oferecida por um ministro, em que o salário  seria o triplo do que ganhava em Königsberg. Tal como fez o filósofo holandês Spinoza (1632-1677), ao recusar ajuda financeira e um cargo de docente universitário oferecidos por ricos admiradores, Kant recusou a oferta do ministro, ainda que este lhe tenha ofertado também outro cargo.
Kant é o mais difícil dos filósofos. Como diz Will Durant, em sua História da Filosofia, “Kant é a última pessoa do mundo que devemos ler sobre Kant.” Tendo sido professor de filosofia na Universidade de Konnisberg desde a juventude até uma idade avançada,  Kant tinha como princípio prático dar o máximo de atenção aos alunos de capacidade mediana; para ele, os de pouca inteligência não tinham salvação, e os gênios se arranjariam sozinhos sem a sua ajuda. Este era também um princípio recomendado por Comenius na sua Didática Magna.
No  túmulo do maior filósofo da era modera, em Kaliningrado, está escrita a seguinte frase, retirada de um trecho da sua Crítica da Razão Prática: “O céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim.”

[Bibliografia: REALE, Giovanni & Antiseri, Dario. História da Filosofia. 2ª ed. Vol. 2: Do Humanismo a Kant. São Paulo, Paulus, 1990; DURANT, Will. A História da Filosofia. Coleção os Pensadores. São Paulo, Nova Cultural, 2000; Immanuel Kant – Wikipédia, a enciclopédia livre: pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant]


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