sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

MEMÓRIA


Hoje, 20/01, é o aniversário de meu pai, PEDRO PAULINO FERREIRA, de quem guardo a mais grata e íntima saudade. Ele nos deixou em 2007, após uma longa e digna existência. Presto-lhe, no blog, esta pequena homenagem e, no coração, dedico-lhe meu infinito amor por ele. 

PEDRO PAULINO FERREIRA


Sertanejo autêntico, homem simples que levou uma existência exemplar, cercado de muitos amigos e familiares. Nasceu na Vila Campos, onde sempre viveu e trabalhou na agricultura, junto com os irmãos, na propriedade da família. É um dos mais antigos representantes do tronco dos Paulino, que se estabeleceram na Vila Campos no final do século dezenove. Filho de Raimundo Paulino Ferreira e Laurinda Paulino de Sousa, nasceu no dia 20 de janeiro de 1918. Como todo bom nordestino, aos oitos anos emigrou para São Paulo com seus pais, onde permaneceram por cerca de dois anos.
Dessa viagem, lembrava a dificuldade do retorno, em plena revolução de 30.
Pedro Ferreira tinha uma verdadeira devoção por sua terra e sua gente. Como agricultor, destacou-se em sua região como produtor de algodão, quando o “ouro branco” era a grande esperança do homem da roça. A determinação e a franqueza foram duas de suas qualidades, somadas às características típicas do verdadeiro homem do sertão: no aperto de mão vigoroso, na conversa ponderada, na observação da natureza ao seu redor, na crença e na alegria de um bom inverno. Tinha o hábito saudável de madrugar. Cultivava muitas amizades, principalmente em Canindé, onde sempre ia a negócios e para visitar a basílica de S. Francisco.
Nos anos 40, final da Segunda Guerra, Pedro Ferreira foi um dos muitos cearenses requisitados para trabalhar na base aérea instalada pelos norte-americanos em Fortaleza.
Casou em 1966, com Maria Uchoa Paulino, constituindo uma família composta de oito filhos. No início dos anos 60, estabeleceu-se como pequeno comerciante, instalando uma venda nas margens da BR-020, sendo o pioneiro no desbravamento da Vila de Campos Novo. O pequeno estabelecimento comercial passou a ser um ponto de referência na localidade, ficando conhecido por todos que ali passavam como o “Café do seu Pedro”. Primou a vida inteira por uma conduta reta, norteada pelo trabalho, a responsabilidade e o altruísmo característico de nossa gente.
Durante toda a vida soube construir bons relacionamentos, zelar a família, respeitar a natureza e manter a calma mesmo nos momentos mais espinhosos. Exibia uma presença marcante em todos os modos, sustentada pela singeleza de espírito e a educação do berço. Mesmo iletrado, teve a iniciativa de oferecer, dentro da sua condição, a escola para os filhos.
Nas festas de São Roque na Vila Campos, Pedro Ferreira, em seu tempo, participava e colaborava na realização do evento. Fã de Gonzagão, não dispensava também uma boa cantoria de viola. Era ainda um diletante da Literatura de Cordel. Chegou aos 90 anos de idade em plena lucidez e ativo. A madrugada do dia 11 de maio de 2007 perdia um de seus maiores entusiastas. Exemplificou com sua vida, que o bem que se faz ao próximo é um depósito moral e espiritual que acumulamos para o futuro incerto.


1) Em sua mercearia
2) Com o neto Pedro Wíttalo
3) Com a filha Rosa e a neta Givoana
4) Com a esposa, Maria


Soneto do poeta WANDERLEY PEREIRA, em homenagem ao meu pai:


PEDRO FERREIRA

Não foi um Pedro Imperador, nem foi
Também Pedro Cabral das caravelas.
Nem foi um Pedro Américo das telas,
Nem Pedro, o Santo (que nos abençoe!)

Foi um Pedro comum (que Deus perdoe...),
De tez queimada, roupas tão singelas,
Presto em abrir porteiras e cancelas
Ao toque do chocalho de algum boi.

Não foi um Pedro, o Grande, dos czares,
Mas Pedro tangedor de bois, muares,
Desses Pedros mais simples das ribeiras.

Metido em botas, sempre de chapéu,
À tarde, ouvia as nuvens lá no céu;
E, à noite, a chuva certa nas biqueiras!

Maio, 2007.







4 comentários:

  1. Pedro Ferreira foi um exemplo de homem simples, sóbrio e humanitário. Um verdadeiro CIDADÃO. Sempre que visitava a Vila Campos eu tirava pelo menos meia hora para conversar com ele. Homem de poucas palavras, de gestos comedidos, de prosa franca e sincera e sobretudo muito ponderado no que dizia. Jamais o ouvi falar mal de quem quer que fosse. Gostava de contar coisas do passado, discorrer sobre sua experiência como comerciante e falar também da chuva e da lavoura. Uma conversa agradável, sem dúvidas.

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  2. Paulino, a família para mim é tudo. Muito boa a homenagem feita para seu pai. Trabalhei em Canindé no BB de 1984 a 1987,mas não tive o prazer de conhecer o Sr. Pedro Ferreira. Sou muito ligado ao homem do campo, que tem muito a nos ensinar com sua simplicidade e autenticidade !!!

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    1. Obrigado, Eduardo. Também adoro a vida no campo, onde moro, com muito prazer.

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  3. "Que Sao Sebastiao e Sao Roque interceda por Ele hj e sempre e que do paraiso Ele possa velar por seus parentes e amigos transformando a saudade em doces recordaçoes".

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