A VISÃO DE JUNG SOBRE A CIÊNCIA,
NO ENSAIO PSICOLOGIA ANALÍTICA E COSMOVISÃO
Colaboração: Flávio Henrique
No seu livro A Dinâmica do Inconsciente, traduzido para o português pela Editora Vozes (3.ª ed. Petrópolis, 1998), Carl Gustav Jung, o criador da Psicologia Analítica, apresenta a sua visão da psicologia como ciência, demonstrando que a nova escola que fundou tinha fundamentos científicos sólidos, tão ou mais rigorosos quanto a Psicanálise criada por Sigmund Freud. Como se sabe, existe uma dificuldade das ciências humanas de se firmarem como ciência no sentido originalmente desenvolvido a partir da Revolução Científica que se iniciou no séc. XVI e que tem como modelo a Física, sobretudo porque o objeto do conhecimento - a alma humana - se confunde com o sujeito do conhecimento. Nas ciências da natureza, tal dificuldade não é tão grande, cabendo notar, no entanto, que, com as pesquisas da mecânica quântica já no início do séc. XX, descobriu-se que o observador das partículas subatômicas (o sujeito do conhecimento) teria influência sobre as propriedades delas, comprometendo a objetividade e a exatidão perseguidas como pela Fisica nas suas investigações da natureza. Transcrevemos da citada obra de Jung o seguinte trecho (pp. 391-2), em que o autor lança um olhar crítico sobre a unilateralidade do comportamento humano quando supervaloriza ou a ciência ou a arte ou a personalidade (neste caso, a vontade de poder estudada por Schopenhauer e Nietzsche), em detrimento das outras. Poder-se-ia dizer também que essa unilateralidade existe também quando o homem supervaloriza a religião, desprezando o conhecimento científico, a arte e o lado prático da vida.
“Uma ciência não é jamais uma cosmovisão, mas apenas o instrumento com que podemos construir uma. A questão se utilizaremos ou não este instrumento depende, por sua vez, também de saber que espécie de cosmovisão já possuímos, porque não existe indivíduo sem cosmovisão. E mesmo em algum caso extremo, ele tem pelo menos aquela cosmovisão que a educação e o seu meio ambiente lhe incutiram. Se esta cosmovisão lhe diz, por exemplo, que ‘a suprema felicidade dos homens neste mundo é a personalidade’ (Goethe), ele se apoderará, sem hesitação, da Ciência e de suas conclusões, e as usará como um instrumento para construir uma cosmovisão para si mesmo - para sua própria edificação. Mas, se suas convicções herdadas lhe disseram que a Ciência não é um instrumento mas um fim em si, ele seguirá a referida divisa que se vem impondo cada vez mais e se tem mostrado decisiva na prática, durante estes últimos cento e cinquenta anos. Alguns indivíduos têm resistido desesperadamente a esta atitude, porque sua maneira de conceber o sentido e o desenvolvimento da vida culmina na ideia da perfeição da personalidade humana, e não na diferenciação dos meios técnicos a qual conduz inevitavelmente a uma diferenciação extremamente unilateral de um único instinto, como, por exemplo, do instinto do conhecimento. Se a Ciência constitui um fim em si mesmo, a razão de ser do homem está em ser ele um mero intelecto. Se a arte constitui um fim em si, o único valor do homem está na sua capacidade criativa, e o intelecto é relegado ao arsenal das coisas inúteis. Se a busca do dinheiro constitui um fim em si, a Ciência e a Arte podem tranquilamente recolher sua bagagem e partir. Ninguém pode negar que a consciência moderna se fragmentou quase irremediavelmente, na busca desses fins unilaterais e exclusivos. A consequência disto, porém, é que os indivíduos são educados para privilegiar apenas uma qualidade, em detrimento das outras, e eles próprios se tornam meros instrumentos.”
NOSSA LÍNGUA
Mijo de cavalo Um tipo de cogumelo, em AL.
muuuito interessante seu blog!
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