quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


A VISÃO DE JUNG SOBRE A CIÊNCIA,
NO  ENSAIO PSICOLOGIA ANALÍTICA E COSMOVISÃO

Colaboração: Flávio Henrique

No seu livro A Dinâmica do Inconsciente, traduzido para o português pela Editora Vozes (3.ª ed. Petrópolis, 1998), Carl Gustav Jung, o criador da Psicologia Analítica, apresenta a sua visão da psicologia como ciência, demonstrando que a nova escola que fundou tinha fundamentos científicos sólidos, tão ou mais rigorosos quanto a Psicanálise criada por Sigmund  Freud. Como se sabe, existe uma dificuldade das ciências humanas de se firmarem como ciência no sentido originalmente desenvolvido a partir  da Revolução Científica que se iniciou no séc. XVI e que tem como modelo a Física,  sobretudo porque  o  objeto  do conhecimento - a alma humana - se confunde com o sujeito do conhecimento.  Nas ciências da natureza, tal dificuldade  não é tão grande, cabendo notar, no entanto, que,  com as pesquisas da mecânica quântica já no início do séc. XX, descobriu-se que o observador das partículas subatômicas (o sujeito do conhecimento) teria influência sobre  as propriedades delas, comprometendo a objetividade e a exatidão perseguidas como pela Fisica nas suas investigações da natureza. Transcrevemos da citada  obra  de Jung o seguinte trecho (pp. 391-2), em que o autor lança um olhar crítico sobre a unilateralidade do comportamento humano quando supervaloriza ou a ciência ou a arte ou a personalidade (neste caso, a vontade de poder estudada por Schopenhauer e Nietzsche), em detrimento das outras. Poder-se-ia dizer também que essa unilateralidade existe também quando o homem supervaloriza a religião, desprezando o conhecimento científico, a arte e o  lado prático da vida.

“Uma ciência não é jamais uma cosmovisão, mas apenas o instrumento com que podemos construir uma. A questão se utilizaremos ou não este instrumento depende, por sua  vez, também de saber que espécie de cosmovisão já possuímos, porque não existe indivíduo sem cosmovisão. E mesmo em algum caso extremo, ele  tem pelo menos aquela cosmovisão que a educação e o seu meio ambiente lhe incutiram. Se esta cosmovisão lhe diz, por exemplo, que ‘a suprema felicidade dos homens neste mundo é  a personalidade’ (Goethe), ele se apoderará, sem hesitação, da Ciência e de suas  conclusões, e as usará como um instrumento para construir uma cosmovisão para si  mesmo - para sua própria edificação. Mas, se suas convicções herdadas lhe  disseram que a Ciência não é  um instrumento  mas um fim em si, ele seguirá a referida divisa que se vem impondo cada vez mais e se tem mostrado decisiva na prática, durante estes últimos cento e cinquenta anos. Alguns indivíduos têm resistido desesperadamente a esta atitude, porque sua maneira de conceber o sentido e o desenvolvimento da vida culmina na ideia da perfeição da personalidade humana, e não na diferenciação dos meios técnicos a qual conduz inevitavelmente a uma diferenciação extremamente unilateral de um único instinto, como, por exemplo, do instinto do conhecimento. Se a Ciência  constitui um fim em si mesmo, a razão  de ser do homem está em ser ele um mero intelecto. Se a arte constitui um fim em si, o único valor do homem está na sua capacidade criativa, e o intelecto é relegado ao arsenal das coisas inúteis. Se a busca do dinheiro constitui um fim em si, a Ciência e a Arte podem tranquilamente recolher sua bagagem e partir. Ninguém pode negar que a consciência moderna se fragmentou quase irremediavelmente, na busca desses fins unilaterais e exclusivos. A consequência disto, porém, é que os  indivíduos são educados para privilegiar apenas uma qualidade, em detrimento das outras, e eles próprios se tornam meros instrumentos.”

NOSSA LÍNGUA
Mijo de cavalo Um tipo de cogumelo, em AL.

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