sexta-feira, 16 de dezembro de 2011


SOB O SIGNO DA POESIA

Para o poeta português Fernando Pessoa,
navegar no zodíaco também é preciso

Pedro Paulo Paulino

A astrologia é uma das pseudociências mais antigas em prática até hoje. No passado, caminhava lado a lado com a Astronomia, a verdadeira ciência que se ocupa dos objetos celestes. Com a revolução e o amadurecimento do pensamento científico, a Astronomia divorciou-se radicalmente da astrologia, sendo esta atualmente desprezada pelos cientistas sérios. Porém, era comum, até por volta da Idade Média, o astrônomo ser também astrólogo. O homem de mente sensata era até então confundido com bruxo, feiticeiros e adivinhos. Mentes privilegiadas, como os astrônomos Kepler, Ticho Brahe e até Isaac Newton e, cogita-se, Galileu Galilei, tinham sério interesse pela astrologia, tanto em proveito próprio como para satisfazer as expectativas de pessoas importantes. Assim, muitos astrônomos defendiam boa parte de sua sobrevivência elaborando horóscopo para as celebridades da época. As decisões governamentais aqui na terra eram traçadas antes de acordo com o governo dos astros. Para isso, em muitas nações o soberano contava com o astrólogo oficial. Enquanto se esforçava para desbancar a Terra do centro do Universo e, no lugar desta, entronizar o Sol, Nicolau Copérnico, por exemplo, fazia cáculos e mais cálculos para mapear o horóscopo do rei. Como se vê, a astrologia já foi exclusividade da nobreza.
“Os astrólogos da corte chinesa, que faziam previsões incorretas, eram executados”, é o que podemos ler no livro Cosmos, do cientista e escritor norte-americano Carl Sagan. Ele diz mais: “A astrologia desenvolveu-se no meio de uma estranha combinação de observações, matemática e uma cuidadosa manutenção de resgistros mesclados de pensamentos confusos e de fraudes piedosas”. No terceiro capítulo de seu livro, Sagan duvida com fortes argumentos da autenticidade da astrologia e põe em xeque a validade da influência dos astros em nossa vida.
Mesmo assim, são muitas as pessoas que, diariamente, só tomam alguma decisão, até mesmo a de sair de casa, depois que ouvem no rádio ou leem no jornal as “previsões” zodiacais. Desconheço uma emissora de rádio que não tenha uma vinheta do tipo “horóscopo do dia” ou “os astros em sua vida”. E sou um ouvinte de rádio contumaz. O costume do horóscopo pessoal é tão antigo quanto a própria astrologia e deve ter surgido há mais de dois mil anos no Egito e daí passado para a Grécia e o restante do mundo. Nicolau Copérnico, já citado aqui, foi um dos pioneiros na prática de fazer horóscopo pessoal.
Que a astrologia tenha contagiado o espírito dos astrônomos antigos, nada de extraordinário. Particularmente, causou-me admiração um livro lançado em Portugal este ano: “Fernando Pessoa, Cartas Astrológicas – Como a astrologia foi determinante na vida e na obra de um dos maiores escritores portugueses”, 280 pgs., da Bertrand Editora de Lisboa. Segundo os autores, Paulo Cardoso e Jenónimo Pizarro, Pessoa deixou em seus acervos mais de 300 cartas astrológicas. Nesse livro, são reproduzidas nada menos que 34 cartas astrológicas elaboradas por Fernando Pessoa para personalidades famosas no mundo todo, a começar por ele próprio. Mas no elenco estão ainda, dentre outros, Goethe, Robespierre, Napoleão, D. Manuel II e D. Luís Filipe, Chopin, Baudelaire…
Até mesmo para os três principais heterônimos criados pelo poeta – Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos – Fernando Pessoa fez cartas astrológicas, de modo a acomodar a personalidade de cada um deles com o estilo de sua escrita.
Pelo que se lê no início do Livro, Fernando Pessoa valia-se da astrologia em quase todos os atos de sua vida diária. “A astrologia fez parte do cotidiano do escritor, que lidava com ela de manhã, à tarde e pela noite dentro, como atestam os diversos cálculos e estudos realizados, com indicação precisa da data e da hora em que foram feitos.” E há que se considerar que na época em que Fernando Pessoa exercia a astrologia, as cartas zodiacais exigiam, além de muita perspicácia e paciência, uma boa dose de conhecimento matemático.
Para o seu amigo Raul de Leal, Pessoa fez vários mapas astrológicos. Num deles, o poeta-astrólogo previu um aspecto maléfico para Leal no ano de 1964, ou seja, 29 anos depois da morte do poeta, ocorrida em 1935. Ocorre que em 1964 Raul Leal Morreu. De acordo com os autores do livro – um é astrólogo, o outro professor de literatura – a astrologia teve bastante ligação com a obra de Fernando Pessoa e até mesmo com o “Futurismo”, o movimento literário que teve o poeta de “Mensagem” como o seu personagem mais expressivo. Fernando Pessoa, nascido em Lisboa em 1888, levou uma vida modesta como tradutor e correspondente estrangeiro. Com a confecção de horóscopos sob encomenda, encontrava meios para complementar seu orçamento. Nos dias atuais, certamente o poeta iria buscar em outra atividade que não fosse a astrologia um aditivo para o seu sustento, uma vez que já existem programas de computador capazes de elaborar um mapa astral em segundos.

NOSSA LÍNGUA
Ir para o engenho do Pestana Dormir, pegar no sono.

4 comentários:

  1. Como você disse naquele dia em que visitei a Vila Campos, a Astrologia contribuiu muito para a Astronomia, diferente do que grande parte das pessoas pensavam. É uma pena que hoje nem todo mundo leve a sério a Astrologia. Muitas das previsões que se vê/ouve em jornais, rádio, revistas, dentre outros meios, não são feitas por pessoas que realmente estudam e conhecem. Se você for ver bem, são coisas do tipo que se adequam à vida de qualquer pessoa, independente do signo. O acesso a isso tem se tornado maior, e, hoje, qualquer conhecimento básico que alguém tenha já é visto como 'digno de um astrólogo'. Eu acredito na veracidade dessa pseudociência quando realizada por quem entende e está por dentro do assunto, mas não em programas de computador, uma vez que já fiz pra testar esses mapas-atral em 2 ou 3 programas diferentes, e em vários pontos eles se contradiziam. Isso é, estou de acordo com o que escreveste, sendo que isso não valeria para todos (valeria para a maior parte, com certeza), porque se alguém for mesmo atrás disso, de uma verdade mais consistente, vai ver que não é possível crer em tudo que há no computador e na internet sobre o assunto.

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  2. É de se perguntar se alguém trocaria a certeza da Química moderna, com seus princípios bem estabelecidos que frutificam nos medicamentos que salvam vidas pelo empirismo da Alquimia. Pela Medicina que poderá auxiliar o ser humano a ter a longevidade de cem anos com suas técnicas científicas, ninguém prefere um xamã para uma cirurgia "espiritual". Só com fatos que não são passíveis de comprovação é que existe tolerância, ou melhor fundamentalismo. A depender da astrologia Colombo teria caído no fim do mundo com seus navios...

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  3. Quando se trata de religião e filosofia, sobretudo o pensamento da Antiguidade, não convém discutir. É uma questão de intuição, fé, e a razão não pode ser levada muito em conta.
    Para os que acreditam e sentem na alma a possibilidade de que os astros tenham uma influência no curso dos acontecimentos, nunca uma certeza irrevogável mas tão somente uma tendência que pode ser alterada pelo livre arbítrio do homem, vão aqui algumas recomendações bibliográficas:
    - Astrologia Esotérica, tomos I e II, da mística inglesa Alice A. Bailey, traduzida para o português pela Fundação Cultural Avatar (vide no Google o endereço do portal).
    - Mensagem das Estrelas e Estudos de Astrologia, do místico dinamarquês Max Heindel, traduzidos para o português pela Fraternidade Rosacruz (vide na internet o portal).
    - Outras obras publicadas pela Editora Pensamento e encontráveis em sebos do sul do País, na Estante Virtual.

    Flávio Henrique

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  4. Apesar de não ter o conhecimento de um Silvio Roberto nessa seara eu imagino que a Química moderna só chegou aos resultados de hoje graças a curiosidade dos alquimistas. Acredito também que muitos remédios eficazes sofreram a influencia de raizeiros e xamãs que ao longo dos séculos testaram a eficacia medicional e as propriedades de cada planta. É preciso ter respeito pela ramificações populares da Ciência, mesmo que não possuam a capacidade comprobatória do que é testado nos meios acadêmicos.

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