ANIVERSÁRIO DE NOEL ROSA
Hoje faz 101 anos do nascimento do maior sambista brasileiro. Noel de Medeiros Rosa nasceu em 11 de dezembro de 1910, no bairro carioca de Vila Isabel, e ali morreu em 4 de maio de 1937.
Realizou seus primeiros estudos no Colégio São Bento. Em 1930, ingressou na Faculdade Nacional de Medicina, abandonando os estudos em 1932. Em 1927, começou a tocar no conjunto Flor do Tempo e, em 1929, no conjunto Bando dos Tangarás, onde conheceu Almirante, João de Barro, Alvinho e Henrique Brito. Ainda em 1929 Noel compõe suas primeiras composições de sucesso: Minha Viola, Festa no Céu e Com que Roupa? A partir de então começou a participar dos programas de rádio. Em 1932, com a morte de Nilton Bastos, passa a tomar parte do trio Bambas do Estácio, juntamente com Ismael Silva e Francisco Alves. Nesse mesmo ano realiza uma excursão pelo Rio Grande do Sul com o conjunto Ases do Samba, do qual faziam parte Francisco Alves, Mário Reis e Nonô. Em 1934, entra para o grupo Gente do Morro, juntamente com Benedito Lacerda, Russo do Pandeiro e Canhoto. Ainda nesse ano aparecem os primeiros sintomas da tuberculose que o obriga a ir para Belo Horizonte para se tratar. Em 1936, começa a trabalhar na Rádio Clube do Brasil. Era chamado o Filósofo do Samba e Poeta da Vila Isabel, bairro em que nasceu e morreu. Deixou aproximadamente 207 composições musicais, muitas em parceria com Vadico. (Fonte: Dicionário Biográfico Universal)
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A biografia mais eficaz do grande sambista é sem dúvida “No Tempo de Noel Rosa”, escrita por Almirante e publicada em 1963. Almirante (Henrique Foréis Domingues) era cantor e radialista, apresentando programas de grande audiência nas décadas de 40 e 50, em emissoras de rádio do Rio de Janeiro. Conviveu com Noel e foi um dos intérpretes do genial compositor. Nesse livro, cujo título era o nome de um programa de rádio de Almirante, o autor desmistifica um mundo de lendas que se criou em torno de Noel, e mostra o Poeta de Vila Isabel em carne e osso, numa breve e produtiva existência muito mais fantástica do que a que se formou no imaginário popular. Ali vemos o Noel boêmio, compositor, cantor, cronista do samba, o gozador da vida carioca e o acadêmico de medicina que abandou o curso no segundo ano. No livro de Almirante, há também um destaque especial para os amores de Noel, que o inspiraram a compor sambas imortais. Do livro, recolhemos esta passagem:
“Noel Rosa teve contato e amizade com motoristas de praça. Cinco merecem ser registrados com fatos relacionados à sua vida pitoresca.
Serafim Vieira da Cunha desde cedo tornou-se conhecido como Malhado, devido às inúmeras manchas na sua pele. Nasceu no Rio, a 25 de setembro de 1895. Em 1929 possuía seu Studebaker nº 6761.
Ao conhecê-lo, Noel logo observou a total ignorância de Malhado sobre episódios ligados a seus familiares e, em 1930, compôs a marcha “Dona Araci”, com quadrinhas incluídas nos versos de carnaval:
Como vai o seu Malhado?
Seu marido em certidão
Inda está desconfiado
Que é lesado pelo irmão.
Como vai a sua filha
Que namora no portão?
Se a senhora não estrila
Quero uma apresentação.
Como vão as suas joias?
Tão bonitas, eu não nego,
Não passavam de pinoias,
Davam dez tostões no prego.
Que foi feito do Renato
Que malvado que troféu
Que pisava em meu sapato
E cuspia em meu chapéu?
Com sua ingenuidade, Malhado sonhava ser cantor. No entanto, não possuía a menor capacidade musical, sendo dolorosamente desafinado e sem ritmo. Supondo ser um êmulo de Chico Vila, exibia-se em serenatas de Cândido das Neves, Uriel Lourival e doutros. Para acompanhá-lo nas ruas, Noel ajoelhava-se com a perna direita no chão, dobrando a outra e ali apoiando seu violão, enquanto realizava as mais atrevidas proezas musicais, solando os mais diferentes tons e acordes, incluindo trechos da ‘Cumparsita’, ‘Marselhesa’, ‘Meu Boi Morreu’ etc, com os ritmos mais exóticos. Companheiros que assistiam às cenas, com risotas, exaltavam o motorista que exclamava com felicidade:
– Esse Noel é o maior acompanhador do mundo! Com Noel eu canto o que quiser e se quiser posso ir ao Teatro Municipal, numa ópera.
Gozador, malicioso e irônico, Noel compôs uma seresta especial para o Malhado, de versos picantes e impudicos, com expressões que o motorista desconhecia. Seriamente Noel as explicava, dando-lhes significações falsas, aceitas de imediato pelo ingênuo, que cantava em voz alta:
Eu saí da tua alcova
Com prepúcio dolorido
Deixando o teu clitóris gotejante
Com volúpia emurchecido…”
Nas últimas páginas de seu livro, Almirante narra o drama de Noel Rosa atacado por tuberculose, enfermidade até então sem cura e que matou o genial compositor aos 27 anos, no dia 4 de maio de 1937. “Por volta das 21h30m, enquanto Dona Marta e Lindaura, no portão, se despediam de amigos da família, seu irmão Hélio, vigilante à cabeceira, notou que o doente abria os olhos, esgazeadamente. Parecia querer dizer algo. E como Hélio lhe indagasse o que sentia, Noel respondeu em voz quase imperceptível:
– Estou me sentindo mal. Quero virar para o outro lado…
O irmão o ajudou. Ao fazer um movimento, a mão de Noel se estendeu para a mesinha de cabeceira, em cujo tampo, como que obedecendo a um tique nervoso, ficou batendo pancadas surdas, ritmadas, esmorecendo, ralentando. Por fim, a mão de Noel quedou imóvel.
Estava morto o maior compositor de samba do Brasil.”
E continua Almirante:
“No dia seguinte, na aglomeração que se verificou na pequena residência do compositor, deu-se um fato deplorável: Dona Marta recebeu uma doação de 400 mil réis da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, destinada a custear os funerais de Noel. Aturdida com a morte do filho, atirou a quantia numa gaveta, de onde foi furtada instantes depois.”
Noel Rosa sonetista:
“O QUE É UM VIOLÃO
O violão, meu amigo e conselheiro,
Que sempre partilhou da minha dor,
Na serenata sempre foi bom companheiro
Numa modinha o meu melhor inspirador.
Nem bandolim, nem violino bem tocado,
Nem mesmo um cavaquinho em boa mão,
Me fizeram ficar tão inspirado
Quanto fiquei com o som de meu violão.
Ele quem me ditou o canto e a rima
Ele quem a vibrar se acostumou,
Soluça no bordão, geme na prima…
É ele quem me anima e me seduz.
Juro deixar o mundo alegremente,
Desde que eu tenha um violão por cruz.”
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HOJE FAZ 101 ANOS
DO SAMBISTA NOEL ROSA
Lá no Rio de Janeiro
No Bairro Vila Isabel
Foi onde nasceu Noel
Rei do samba brasileiro
Foi boêmio, seresteiro
De inspiração fabulosa
Viveu sempre todo prosa
Dele, nós somos ufanos
Hoje faz 101 anos
Do sambista Noel Rosa
Do grande compositor
Autor de “Fita Amarela”
Foi curta a vida, mas bela
No samba foi professor
E cantou a própria dor
De maneira harmoniosa
Uma pedra preciosa
Foi Noel entre os humanos
Hoje faz 101 anos
Do sambista Noel Rosa
Outro samba especial
É “Silêncio de Um Minuto”
Onde a saudade é o luto
Em tirada genial
Já tão perto do Natal
Naquela data famosa
Vila Isabel, orgulhosa
Viu mudar todos seus planos
Hoje faz 101 anos
Do sambista Noel Rosa
Hoje está na dimensão
Onde está Nelson Gonçalves
Aracy e Chico Alves
Grandes nomes da canção
Mas em nosso coração
A lembrança carinhosa
Permanece vigorosa
Em novos e veteranos
Hoje faz 101 anos
Do sambista Noel Rosa
(PPP)
NOSSA LÍNGUA
Siribolo Confusão, latomia, turundundum, no PI.
O que sempre me impressionou em Noel é a qualidade de sua produção, em seus poucos 27 anos de vida. O intérprete perfeito, gosto pessoal, claro, de seus sambas é João Nogueira. Recomenda-se para quem queira conhecer algo da biografia de Noel o excelente filme Noel - O Poeta da Vila, de 2006, com Camila Pitanga no pacel de Ceci e Supla no de Mário Lago, belíssimo filme. Dizem que o herdeiro noelino direto é Chico Buarque.
ResponderExcluirDisseste bem, SRS: "Dizem".
ResponderExcluirOlá Pedro,
ResponderExcluirParabéns pela postagem, lebrando o grande compositor, Noel Rosa, que se foi tão cedo.
Mas realmente ficou na história.
Meu abraço,
Dalinha
Afinal, quem faz o papel de NOEL ROSA no filme citado por Silvio R. Santos???
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