quinta-feira, 29 de setembro de 2011


A FESTA DE S. FRANCISCO E
A CASA MARREIRO

Pedro Paulo Paulino

Carrossel na porta de entrada da Casa Marrreiro
Um carrossel fixado acima da porta principal é o primeiro objeto que chama a atenção de quem se aproxima da Casa Marreiro. No carrossel, as figuras de dois vaqueiros atrás do boi… Enquanto gira, transeuntes param e ficam admirando. O artefato já tem réplica no Museu do Vaqueiro, em Fortaleza. O brinquedo que atrai crianças e adultos é obra da engenhosidade do fundador da casa, o poeta e folclorista Raimundo Marreiro (1913-1980). A loja existe desde o ano de 1948 e hoje faz parte da história cultural da cidade. Antes de tudo, é um ícone da Festa de S. Francisco. Sua localização na esquina do mercado central de Canindé é um corredor de passagem quase obrigatória. A diversidade de pessoas que visitam a Casa Marreiro vai do mais humilde trabalhador da roça ao intelectual. Não menos eclética é a exposição dos artigos à venda: da sola do sertão ao retalho, pneus para alpercartas sertanejas (currulepes), chocalhos, facas, estribos, esporas, rede de pesca, arreios para animais sela, peitoral, rabicho, cabeçada, rédeas... No interior da loja, avistam-se ainda objetos curiosos, como bainha para machado e foice, chocalho de cascavel, sutiã para cobra, uma pedra de corisco, o ninho de joão-de-barro etc.
Dentro da loja habita uma personagem lendária, a Boneca Gilda, também criação de Raimundo Marreiro. Gilda é uma loira de boa estatura e elegantemente trajada com seu vestidão de chita. Ela é talvez uma das criaturas mais populares nestes sertões. Exposta bem à vontade próximo ao balcão da loja, Gilda está sempre na mira dos turistas que posam a seu lado. Por isto sua imagem corre mundo. Mas ela tem autorização para vez ou outra desfilar pelas ruas, exibindo seu sorriso maroto. O carrossel, a Gilda e a decoração interna da Casa Marreiro, por sim mesmos, já formam um conjunto patrimonial da cultura autêntica de Canindé.
Poeta Natan Marreiro no balcão da loja
Mas a loja é uma tradição de família. Do poeta Raimundo, sua administração passou para os filhos. Hoje, quem está à frente é o poeta Natan Marreiro. Na casa sente-se ainda, pela marca que imprimiram no ambiente, as presenças dos saudosos Marreirinho e Laurismundo. De todos eles, as histórias se somam à uma só história: a da Casa Marreiro. Esse ambiente, onde se respiram prosa e poesia, justamente por causa disso abriga uma família numerosa: poetas da cidade, escritores, artistas de todo naipe, têm um laço, digamos, de consaguinidade com a Casa Marreiro. Neste período de festejos franciscanos, a Casa Marreiro é um estuário para onde muitos canindeenses que moram fora se dirigem. Pois é certo ali reencontrar os conterrâneos e sentir um cheiro de nostalgia… A prosa então corre solta! Na época do professor Laurismundo, era comum vê-lo conversando com um matuto e, num picar de olho, falando inglês com um turista. Sob o vidro do balcão, ou penduradas no meio do empório, estão as fotografias de um passado mais ou menos distante.
Eis que o poeta Raimundo transmitiu para os filhos o dom de fazer versos, portanto, o que não falta ali é poesia. E há quem chegue cumprimentando e sendo cumprimentado em uma sextilha ou uma décima. Por causa disso, dentro da loja existe um anexo dedicado ao cordel: é a “Banca do Gato”, onde o poeta Natan Marreiro expõe seus próprios folhetos e os folhetos dos confrades. Um acervo de causos e o anedotário da loja está gravado fielmente na memória do seu mais vetusto balconista, o Roque. Ouvindo-o, é possível recompor um autêntico relicário do folclore da cidade. A mistura de romeiros com a fauna habitual da Casa Marreiro dá vida e um colorido marcante. A Festa de São Francisco, em resumo, passa pela Casa Marreiro. Do seu patriarca, o poeta Raimundo, guardam-se na memória versos de alegria e de penar, de sátira e de encômio, de reflexão ou de puro bairrismo, como nesta estrofe, senha de abertura do programa dominical do radialista Tonico Marreiro:

“Esta cidade,
Que para nós é um encanto,
É da cidade do santo
Imitador de Jesus!
Quando o romeiro
De longe a vai avistando,
Seus olhos vão-se inundando
De ternos raios de luz…!”

Prof. Laurismundo, Cesar Menotti, PPP,
Tomezinho e Ercílio Neco (anos 80)
Reunião de amigos em frente
à Casa Marreiro


3 comentários:

  1. PEDRITO,
    SÓ UM TALENTOSO POÉTA E FOLCORISTA COMO VOCE PODERIA DESCREVER COM TANTA FIDELIDADE O QUE REPRESENTA A "CASA MARREIRO", NO CONTEXTO DA NOSSA CULTURA REGIONAL.
    ROGO, TODAVIA, USAR DA SUA INCRÍVEL HABILIDADE DE DIAGRAMADOR, E RETIRAR DE UMA DAS FOTOS, A PRESENÇA DO HOMERIM, POIS EM FOTOGRAFIAS ELE SUBTRAI OS INCAUTOS... BRINCADEIRA! O HOMERIM É UM DOS GRANDES AMIGOS DA FAMILIA MARREIRO... kkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. Belo texto. O "vermelhão" vivia perto do caixa. Era uma grande preocupação na Festa de São Francisco. kkkkkk

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  3. Você tem alguma foto da boneca do marreiro?

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