sábado, 13 de agosto de 2011

artigo




TODOS SOMOS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA

Francisco de Assis de Freitas Silva

Então acontece, justamente com você, algo completamente inimaginável. Você se vê diante de um enorme labirinto do qual é muito difícil tentar sair, simplesmente por que parece impossível. Esse labirinto em muito se parece com a situação em que se vive nas grandes cidades. O mundo parece de pernas pro ar e você não consegue ver uma luz no fim do túnel. A situação em que algumas capitais brasileiras se encontram hoje, com o crime rondando a sociedade como um leão à espreita de uma presa, parece uma bola de neve rolando montanha abaixo e a sociedade civil organizada e seus governantes se vêem cada vez mais impotentes para contê-la.        À época em que estas linhas eram traçadas, uma quarta feira, 24 de novembro de 2010, os noticiários de todo o Brasil destacavam ondas de violência desenfreada nas ruas da Cidade Maravilhosa, com os criminosos ateando fogo em ônibus coletivos e veículos particulares, enquanto os especialistas e autoridades em segurança pública davam suas explicações na grande mídia e adotavam providencias; diga-se de passagem, que as providencias adotadas foi colocar reforço policial nas ruas com armas de guerra e veículos blindados, enquanto as reportagens mostravam as conseqüências: dezenas de feridos, prisões e alguns mortos contabilizados ao final do dia.                                                                              
Pelo menos aqui em Canindé os índices de violência estão dentro de padrões civilizados, em parte graças à colaboração da comunidade, auxiliando as equipes de policiais do Ronda e do P.O.G (policiamento ostensivo geral) que trabalham em nosso município, interagindo com informações e denuncias anônimas. Pois ora vejam senhores leitores, neste dia eu estava chegando de mais uma noite de trabalho de uma pacata terça feira, por volta de seis e pouco da manhã e seguindo a rotina de tirar a farda, tomar um banho e café da manhã, dirijo-me então para meu quarto ver as notícias nos telejornais matinais enquanto minha esposa prepara-se para abrir a loja de roupas e acessórios que mantemos embaixo do apartamento onde moramos bem no centro da capital da fé. De repente lembro-me que tenho que ir até a casa lotérica, bem próxima de nosso lar e retorno em seguida devido ao turbilhão de pessoas que ora se acotovelam em desorganizadas filas. Voltarei mais tarde, imagino.                         
Desço novamente para comprar leite e peço que minha filha caçula o ferva. Neste momento minha esposa já está pronta e em pouco abrirá a loja. Fico na Clínica dos Calçados de propriedade de meu amigo Valmir, onde costumo sempre jogar conversa fora e fico observando de vez em quando se não chega alguém no portão do apartamento. Pouco depois minha filha vem até minha pessoa e indaga acerca da bolsa de sua mãe. Respondo que a última vez que a vi foi em cima da cama. Em seguida, minha esposa, com o semblante já abalado, diz que alguém pode ter entrado no apartamento e surrupiado o objeto em questão. Rapidamente vasculhamos os quatro cantos da casa e constatamos, após ligar para os números de telefone que estavam no interior da bolsa, que alguém entrou e a furtou, haja vista os celulares em seu interior estarem desligados ou fora da área de cobertura quando tento ligar para os mesmos. Fora os dois celulares da patroa, ainda havia no interior da bolsa documentos pessoais, cartão de banco e certa quantidade em dinheiro, além de fotografias da família.
O valor em questão não tem lá tanta importância, o que machuca mesmo é saber que até a casa de um policial não é inviolável. O que se dirá então da casa de cidadãos ditos comuns, singelos pais de família, ocupados demais com as contas do mês e outras atribuições domésticas, que não possuem tempo para ficarem à toa nas abandonadas praças de Canindé, observando a vida de quem trabalha e apenas espera um momento de distração para agirem e surrupiarem o fruto do suor do rosto de pessoas honestas; pessoas que só querem um lugar ao sol e que lutam diariamente por um futuro melhor para os filhos e que não sabem de cor e salteado as principais infrações do ultrapassado código penal brasileiro, assim como também não tem conhecimento sobre excessos de prazo e progressão de regime, termos muito usado por advogados nos tribunais quando defendem réus presos por prática de delitos como furto ou assalto à mão armada. Por esse motivo, talvez, é que tantos criminosos reincidam em práticas delituosas. O excesso de prazo e a progressão de regime os colocam em liberdade em menos tempo do que aquele ao qual foram condenados; assim alguém condenado a uma pena de nove anos, por exemplo, cumpre em média, pouco mais de dois anos de reclusão, gerando assim uma sensação de impunidade por parte das vítimas que se surpreendem ao cruzar com os tais nas ruas e avenidas da cidade.
Suponho que alguém tenha observado minha saída até a lotérica e aproveitou esta oportunidade para entrar e consumar seu feito, deixando a casa engomada, como se fala na gíria. Como deve sentir-se então, um médico diagnosticado com uma grave enfermidade? Da mesma forma que eu, talvez, tenha me sentido. Completamente impotente. Conhecedor de sua inferioridade e, às vezes, até culpado ou ainda conivente. Tentei consolar minha esposa, acalmá-la. Falei de pessoas que encontram situações piores, com os bandidos apontando armas para a cabeça de seus filhos e vociferando perguntas do tipo cadê o dinheiro “vagabundo”, pois bandidos e facínoras tem o ultraje de chamar pais de família e trabalhadores de VAGABUNDOS e ainda dizem que vão matar seus filhos. Fui em seguida à delegacia, desta vez como vítima e não como condutor, para prestar queixa e confeccionar o boletim de ocorrencia. Informei o fato aos policiais de serviço, para que se vissem algo fizessem a gentileza de me informar. Mesmo eu não tendo nenhuma descrição de algum suspeito, eles partiram em diligencias, porém sem nenhum êxito.
Um desejo hostil e abominável apoderou-se de mim por um breve instante: pegar a pessoa que praticou esta violência e... Deixa pra lá. São sentimentos partilhados por milhões de vítimas que momentaneamente imaginam uma lei mais severa como a prisão perpétua ou a pena de morte, ou ainda supõem que poderiam agir como super heróis, estarem acima do bem e do mal e fazer justiça com as próprias mãos. Felizmente é apenas uma emoção fútil e passageira, não é digna de quem é um cidadão que cumpre a lei e é, assim como você, uma pessoa de carne e osso, cheia de defeitos e virtudes, que sangra, chora e sorri e que não é impávido como um super homem. E sim, apenas mais um brasileiro, trabalhador, pai de família, gari, empresário ou policial militar, que por conviver diariamente com histórias alheias de violência, se torna tão ou mais vítima como qualquer um pobre e reles mortal.

3 comentários:

  1. A propósito da violência e em aditamento ao artigo do amigo Freitas, dois casaos chamaram a atenção ontem (12.08): a execução de uma juíza no Rio de Janeiro pelos simples fato de desempenhar amissão que lhe compete e, em Canindé, a troca de tiros de bandidos com a polícia.
    A bandidagem está perdendo a cada dia o respeito com o poder público.
    Ainda a respeito do enfrentamento dos bandidos com a polícia, ouvindo algumas participações de policiais pelo rádio dava para perceber um certo achamento da própria polícia com o desfecho quase que querendo se desculpar por ter morrido um bandido (talvez receio dos grupos que se dizem defensores dos direitos humanos).
    Desde criança nos assistimos aos filmes de policiais e bandidos em que o policial sofre toda espécie de barbaridade, escapa miraculosamente da morte,para só então, na hora do desfecho, conseguir finalmente dominar ou matar o bandido. A sociedade, de certa forma, fica condicionada a isso. Ora, se cada vez que um policial enfrentar um bandido só tiver 50% de chance de vitória ele fatalmente tombará em poucos confrontos pela própria lei das probabilidades.
    Portanto, a polícia tem que entrar em cada ação com quase 100% de chance, afinal, tem a nobre missão de defender a sociedade e TODO PODER EMANA DO POVO E EM SEU NOME SERÁ EXERCIDO.
    Parabéns aos intrépidos membros do "FTA" e como não faço questão de ser politicamente correto, a única coisa lamentável nesse episódio É TER MORRIDO APENAS UM BANDIDO.

    Cesar Magalhães

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  2. Gostaria de cumprimentar o blog pelo ecletismo, o não patrulhamento, indo de cordel, astronomia, memórias, tradições,filosofia, história, ao policialesco etc. Sempre primando pela qualidade do conteúdo. Continue a música, poeta PPP.

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  3. Parabéns aos policias que praticaram essa ação. Bandido bom, é bandido morto!!
    Talvez um, ou mais PM'S vá ser chamado atenção ou até mesmo punido pela justiça que apóia os bandidos. Porque só existe bandido, porque existe a justiça pra defendê-los...

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