quarta-feira, 13 de julho de 2011

vida

DOR NA CONSCIÊNCIA

Aurilene Uchoa*

A dor na consciência não tem comparação na escala das dores físicas. Também não há referência única em todo o corpo, porque dói não se sabe onde. Sabe-se que dói e muito. Por falta de melhor comparação, digamos que a dor na consciência é a náusea da alma. Não adianta buscar na farmácia um único comprimido para dor na consciência, que não encontrarás. A causa desse sintoma também não está catalogada pela Organização Mundial da Saúde, haja vista que cada caso tem uma origem particular. O que se sabe, é que a enfermidade é adquirida, não transmissível, portanto, perfeitamente evitável. Mesmo assim, o índice de sua manifestação é considerado alto, embora ainda não haja estatística sobre o assunto.
O nível de dor na consciência independe do agente causador. Aparentemente, tanto faz a causa ser monstruosa quanto não, a dor vem na mesma magnitude. Tudo indica que os achaques costumam vir pela manhã, quando a vítima desperta e lembra assustada de alguma bobagem feita ou dita no dia anterior. Antes mesmo que a consciência se reanime para enfrentar um novo dia, um alerta contínuo chama a atenção da pessoa, como uma luz vermelha indicando perigo: esse alerta é a dor na consciência. Ela deprime, arrasta a pessoa para baixo, provoca inquietação e abre um leque de desejos negativos. A pessoa não sabe a quem nem a que recorrer para aliviar a tensão. Quanto mais busca melhora, mais se aflige. Vêm ânsias de fuga de si mesmo, de buscar um esconderijo no fundo da terra onde não seja visto por ninguém. Evita o espelho, põe a mão na cabeça, pensa e repensa, e quanto mais fustiga o pensamento, mais aumenta a dor.
Fábio acordou de manhã, boquiaberto, ainda meio sonolento, sentindo-se o mais normal dos homens. De repente, o alerta buzinou na sua mente. Era a dor na consciência, que logo lhe apontou com exatidão a causa do problema. Um escorrego na palavra, no dia anterior, constituía uma infração grave. Por mera bobagem, cometera um ato vil e repugnante à pessoa que mais o admirava. Pecou menos por ato do que por palavra, aliás. Quando ele acordou, julgou-se o mais infeliz dos seres humanos. Achou-se responsável por todos os males do mundo, como se a própria rotação da terra dependesse da vontade dele. E a dor tomou de conta de todo o seu ser.
Tentativas de consertar a coisa a essa altura só fazem mesmo aumentar a proporção do erro. O eterno desejo da vítima nessa ocasião é de voltar o relógio do tempo, apagar tudo e fazer a coisa diferente. Diante dessa impossibilidade, o desconforto cresce. A dor na consciência fotografa implacavelmente a infração, revolvendo no fundo da alma, a todo instante, a causa do problema. O paciente clama por um sedativo, em vão. Uma das reações mais comuns é um profundo sentimento de culpa, seguido por um impulso de auto-condenação. Em alguns casos, a vítima quer auto-impôr suplícios físicos para compensar o suplício moral. Não há consolo.
Já falamos que ainda não há remédio para dor na consciência. Mas estudiosos da alma humana aconselham seis dicas para se evitar o problema:
♦ Meça o que diz e faz
♦ Não perca a calma e o auto-controle
♦ Jamais impaciente-se, mesmo diante de uma longa espera
♦ Não desconfie nem julgue quem lhe preza
♦ Aceite o silêncio do outro, que pode estar depondo a favor de você mesmo a distância
♦ Compreenda que os problemas não são exclusividade sua
Enfim, enquanto não se descobre um remédio eficaz para dor na consciência, manuscritos antigos prescrevem um paliativo raro: o PERDÃO de quem foi ofendido. É um medicamento sem reações contrárias e sem efeitos colaterais. Pode ser assimilado em quantidade única. É receitado desde o príncípio do mundo, mas dificilmente encontrado, devido um certo preceito de mutualidade. Sendo assim, por carência de medicina curativa, o melhor mesmo é prevenir-se da dor na consciência.

*Fortalezense, estudante, colaboradora do blog.

♦♦♦

Esse texto da nossa colaboradora me fez lembrar um dos melhores sonetos do poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914), intitulado “O morcego”, que aqui reproduzo:

“Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
‘Vou mandar levantar outra parede…’
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, á noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!”


5 comentários:

  1. O texto da nossa colaboradora Aurilene Uchoa evidentemente concentra-se mais em casos pessoais de remorso e angústia. Imagine se tivesse remédio para dor na consciência. Não teria laboratório farmacêutico no mundo que desse conta da demanda pela classe política.

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  2. Pedro Paulo me permita
    Discordcar desta premissa
    Cabra que não vai à missa
    Nem sabe o que é marmita
    Rouba e ainda acredita
    Que tem moral e decencia
    Vive arrotando inocência
    Mesmo com a alma no lixo
    Político é o único bicho
    Que não possui consciência!

    Cancão de Fogo

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  3. Arievaldo, eu concordo
    Com o seu ponto de vista
    Não tem um que não resista
    Da política estando a bordo
    Todo dia quando acordo
    Peço à Santa Providência
    Para me dar paciência
    E me livrar desse nicho
    Político é o único bicho
    Que não possui consciência

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  4. Político chifrudo ou mocho
    De gravata ou sem alinho
    Age como o bacorinho
    Quando come, vira o coxo...
    Quer o pobre no acocho
    Na mais cruel indigência
    Só usa a inteligência
    A favor de seu capricho
    Político é o único bicho
    Que não possui consciência.

    Cancão de Fogo

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  5. Muito penetrante e arguta a análise psicológica feita pela autora, demonstrando uma lúcida e sutil consciência dos sentimentos humanos. Carl Gustav Jung, o suíço criador da psicologia analítica que viveu até a década de 60, enfatiza a importância do Self, o centro da alma humana em que jaz o inconsciente pessoal e o coletivo (este o fruto de toda a experiência humana passada, milenar) que de forma na maioria das vezes inconsciente alerta o ser humano para os desvios de conduta que o afastam do reto caminho. E esses alertas vêm em forma de sonhos, de complexos de culpa e de doenças físicas ou psicológicas, embora estas últimas apareçam de forma combinada.
    Por outro lado, o médico norte-americano Richard Gerber, em seu livro Medicina Vibracional, de certo modo profético no que diz respeito à medicina do futuro, aconselha que não é saudável alimentar remorsos e culpa pelos erros cometidos (e todo ser humano os comete todos os dias). O melhor que se faz é reconhecer o erro e tomar a resolução de não voltar a repeti-lo (quando se é escrupuloso o bastante), pedido a Deus forças para não recair na mesma fraqueza. Autocondenar-se é uma demonstração de falta de amor a si mesmo, uma virtude tão saudável e necessária quanto amar aos outros na medida das nossas possibilidades. Gerber chega a dizer que grande parte das doenças são causadas por falta de amor a si mesmo(autoestima) e aos outros. Esta falta de amor na vida das pessoas, segundo Gerber (para quem acredita!), é responsável por bloqueios energéticos no chakra cardíaco, influenciando indiretamente, por via da glândula timo tão pouco estudada, a depressão no sistema imunitário, tornando o ser humano suscetível de diversas doenças.

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