segunda-feira, 11 de julho de 2011

CHUVA TEMPORÃ EM CANINDÉ

Foto: A. C. Alves
Quando acreditávamos que as chuvas tivessem encerrado a quadra invernosa no Ceará, de repente o tempo se transforma e chove forte em várias regiões. A chuva que caiu em Canindé na tarde da última sexta-feira, 8, atingiu cerca de 70mm e foi uma das maiores precipitações do ano na cidade. De uma hora para outra, as ruas ficaram inundadas e muitas casas, até mesmo nas partes mais altas da cidade, ficaram alagadas. Segundo noticiou a imprensa, a chuva trouxe prejuízos para moradores e comerciantes. Já na zona rural do município, choveu com menos intensidade. Mas a presença de relâmpagos e trovões deixou na atmosfera a impressão de começo de inverno. Chuvas fora de época também estão sendo registradas em outros estados nordestinos.
O que aqui chamamos de inverno compreende o período de janeiro a junho, com seu ponto alto nos meses de março e abril. Na tradição oral do sertanejo, há relatos de chuvas fora de época, inclusive no mês de outubro, na região de Canindé. Um octogenário de Vila Campos, Cosme Paulino Viana, o "prefeito" do lugar, lembra que no dia 28 de julho de 1979, choveu torrencialmente nestas paragens, fazendo o rio Cangati enxurrar. A ocorrência de chuvas em julho, certamente, ainda está ligada ao fenômeno climático denominado “La Niña”, o oposto do “El Niño”. Este é um fenômeno cíclico, cujas causas ainda são pouco conhecidas, e que é desencadeado por um aquecimento anormal das águas superficiais do oceano Pacífico, próximo à costa peruana, o que acarreta alterações na circulação atmosférica em escala global.
Quem primeiro observou o aquecimento anormal das águas do Pacífico foi o explorador espanhol Francisco Pizarro que entrou para a história como o “conquistador do Peru”, isso na primeira metade do século dezesseis. O fenômeno foi batizado de “Corriente del Niño”, ou seja, “corrente do Menino Jesus”, por acontecer na época do Natal. Não se sabe a natureza do fenômeno. Uma das hipóteses mais aceitas é que existe embaixo do Pacífico um vulcão em atividade regular. A presença do “El Niño” significa seca no Nordeste brasileiro e inundações nas outras regiões. Já “La Niña”, seu oposto, é anúncio de muita chuva no nosso Nordeste e secas e incêndios nas outras regiões. Este ano, portanto, é ano de “La Niña”.
Eu não me admiraria se o Nordeste, particularmente o Ceará, tivesse uma inversão climática definitiva, em que o fenômeno da seca fosse totalmente erradicado. Vejamos, por exemplo, nossa situação geográfica. Estamos, de um lado, cercados pelo oceano Atlântico, e de outro, pela floresta amazônica. Quer dizer, estamos entre dois fatores primordiais para a ocorrência de chuvas. No entanto, aqui há secas. E ainda devemos levar em consideração que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) está localizada sobre nossas cabeças, próximo à linha do Equador. É nessa região do planeta que os ventos úmidos dos dois polos da Terra combinam para se encontrar. Esse encontro resulta na formação de nuvens carregadas, as chamadas “cumulonimbus”, aquelas nuvens altas que chamamos torreões e que acabam quase sempre em aguaceiros.
O clima, entretanto, é um mecanismo altamente complexo e de difícil previsão a longo prazo. Não há dúvida que a meteorologia aprimorou-se significativamente nos últimos anos, principalmente com o auxílio da informática. Mesmo assim, estamos sempre na corda bamba quando o assunto é se vai chover ou não. Além disso, fenômenos de grande impacto no planeta, como tsunâmis, vulcões, terremotos etc, provavelmente estão contribuindo para uma transformação global do clima. Ajunte-se a isso a participação do homem como agente poluidor e também agressor da delicada cadeia climática da Terra. Sempre se ouviu falar de uma velha profecia, segundo a qual “o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão”. Antonio Conselheiro já defendia esse preceito. De minha parte, não desejo que tal coisa aconteça. Deixemos nosso sertão como sempre foi, de seca e de inverno. Se por força qualquer, o sertão virar mar, o mar traz tsunâmis devastadores. O mar está cheio de navios de guerra, submarinos, talvez conduzindo bombas e outros artefatos mortíferos. No mar, segundo dizem, está o corpo de Bin Laden… É bom estarmos longe do mar.

2 comentários:

  1. Poeta, confesso que estou sentindo falta do nosso sol contínuo e clima seco, quente. Essa contínua indecisão climática não me faz bem, com a constante depredação do planeta, esses fenômenos serão uma rotina. As gerações futuras serão suas maiores vítimas. Só temos esse planeta à disposição, enquanto as nações ricas fingem que pretendem conservá-lo, o mesmo vai se deteriorando, inexoravelmente.

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  2. O artigo foi elaborado com exemplar rigor científico, e as hipóteses levantadas pelo Pedro Paulo são originais, especialmente no que se refere à possibilidade de a instabilidade geológica do Planeta - vulcões voltando à atividade e terremotos de grande magnitude - influenciar o clima por mecanismos desconhecidos.
    Da minha parte, chego até a pensar que a crescente concentração anormal de gás carbônico na atmosfera, causada pelos combustíveis fósseis, aliada ao decréscimo do oxigênio, por sua vez motivado pela devastação da flora, além de desequilibrar o clima (isto é uma evidência reconhecida pela ciência), pode ter repercussões geológicas. Estas últimas têm uma explicação dada pela filosofia esotérica (aí entramos no campo da fé): a Terra é um organismo vivo, não só no que se refere à fauna, à flora e ao homem. A vida se manifesta também no reino mineral, na matéria que chamamos bruta, sem "vida". O que chamamos de matéria não passa de uma forma que o Espírito Universal assume. A luz, o som, a energia, as ondas eletromagnéticas são outras manifestações fenomênicas do Espírito Universal, do qual os filósofos alemães Schelling e Fichte, influenciados pela filosofia transcendental de Kant, tanto falavam nas suas obras.
    Pois bem, o Planeta, sendo um organismo vivo em sua totalidade, tem mecanismos naturais de homeostase, de autorregulação, iguais ao do ser humano, pois a Lei de Analogia ou de Correspondências é uma evidência em todo o universo. O dia e a noite, a vigília e o sono, o nascer e o "morrer", todas essas polaridades ocorrem em todos os seres, em nível micro ou macrocósmico. Da mesma forma que um desequilíbrio em um órgão do corpo humano ativa um mecanismo de resposta em outros órgãos, o desequilíbrio na atmosfera da Terra desencadeia reações geológicas, por vias desconhecidas pela ciência ortodoxa, cujo conhecimento é ainda muito incompleto e mutável a todo instante em face de novas descobertas.

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