sexta-feira, 10 de junho de 2011

TECNOLOGIA


A VILA E A INTERNET

Pedro Paulo Paulino 

Há exatamente seis meses Vila Campos entrava para o universo online. Uma empreitada ousada do canindeense Altay Pereira fazia chegar por aqui os sinais eletrônicos que agora nos conectam com o mundo. Com fôlego de desbravador, Altay veio cá pelos Campos, levou as mãos à testa sombreando os olhos, contemplou o serrote que chamamos Logradouro e viu bem lá no topo a possibilidade de instalar uma torre com seu transmissor. E nós, que sempre olhamos para o Logradouro à espera da chuva, ficamos atentos para essa outra novidade que enfim apareceu, silenciosa e altaneira, sem trocadilhos.
A marcha dessa aventura durou pelo menos uma semana. A escalada da montanha fez lembrar alguma cena cinematográfica, em que não faltaram os incidentes típicos do percurso. Ciceroneados por colaboradores, Lulu e Grandão – os técnicos –, conseguiram chegar ao local adequado para a instalação da torre. Ali encontram uma enorme pedra, de cima da qual se avista a cidade de Canindé, e lá cravaram com cimento uma estrutura de ferro para suporte dos aparelhos.
O sucesso foi alcançado. Não resta dúvida que os percalços andaram desanimando os missionários. No primeiro dia, enfrentaram a dificuldade para o transporte dos equipamentos e do material. Altay não esquece que a primeira e invencível dificuldade foi exatamente encontrar um jegue de aluguel. Havia mais motocicleta e carro a disposição, do que jumento. Os veículos motorizados eram impróprios para escalar o terreno. Como o transporte não foi encontrado, o Grandão determinou-se, fazendo jus à sua alcunha e sem perder a hora, arrojar num ombro uma parte dos acessórios e no outro uma saca de cimento e seguir os guiadores pelas veredas improvisadas serra acima.  A poucos passos de chegar ao local, entretanto, um tropeço fez despencar ladeira abaixo a carga. O saco espatifou-se e… lá se foi o  cimento.
A nova aventura foi mais bem sucedida.
Vencidos esses obstáculos, já instalados e devidamente programados, os aparelhos começaram a enviar o sinal da Rede Mundial de Computadores para estes ermos.
Iniciativas dessa magnitude me fizeram refletir sobre o antigo desafio do homem para se comunicar a distância. Em uma tentativa inspirada de se fazer ouvir melhor por uma multidão, Cristo subiu a montanha para anunciar suas Bem-aventuranças. Marconni foi desacreditado quando propôs na Itália que a voz humana podia navegar pelo espaço sem fio: o rádio ainda é hoje o meio de comunicação de massa mais imediato. Antes, Graham Bell provou que o telefone era uma realidade. E bem antes ainda, Morse anunciou o telégrafo. Nosso Marechal Rondon levou a telegrafia para as selvas da Amazônia. É de todos conhecido o meio de comunicação através do solo utilizado pelo índio (pelo menos nos filmes de Hollywood). Ainda no reino dos mamíferos, é cientificamente compravado que as baleias se comunicam a longas distâncias por sons emitidos através da água. E quem de nós não brincou de telefone usando duas caixas de fósforo ligadas por um cordão? (Não precisa me dizer: os meninos de hoje usam celular.)
Uma invenção sempre chega, momentaneamente, para desbancar a anterior. Um velho já me contou aqui o espanto que causou a chegada do primeiro receptor de rádio neste lugar. Era um monstrengo de vávula e a bateria, trazendo em seus ruídos as notícias da Segunda Guerra e mais tarde narrativas da chegada do homem à Lua, coisa de que muita gente por aqui ainda duvida. Em seguida, chegou nesta região o primeiro aparelho de TV, exatamente no ano em que o Brasil tirou dos pés e das mãos dos italianos a taça Jules Rimet, consagrando-se tri-campeão mundial na Copa do México.
É certo que o rádio e a televisão fizeram mais barulho com sua chegada do que a internet. Talvez porque esta, na sua universalidade, seja mesmo mais separatista, tal como é o mundo. Afora essa novidade, em quase toda habitação do mato brilha hoje a tela de um aparelho de TV em cores, munido de antena parabólica. E mais: um aparelho de telefone celular também está presente em cada rancho – no meu, não. Em atenção a uma desconfiança temerosa, a internet já me basta para nos distanciar cada vez mais uns dos outros. 

Fotos gentilmente cedidas por Altay Pereira

4 comentários:

  1. O acesso a Rede Mundial de Computadores deverá ser brevemente uma necessidade social básica, como o abastecimento d'água. Na verdade o governo federal se arregimenta para baratear e disseminar a Banda Larga por todo território nacional. No Ceará, o governo do estado construiu o que se chamou de Cinturão Digital, cadê as benesses desse projeto,que, estranhamente, não estamos usufruindo... esse silêncio incomoda.

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  2. Acho que é preciso doar o que é feito com dinheiro público à iniciativa privada, primeiro, para startar esse "cinturão", bem barato, por favor, e comprado com dinheiro emprestado pelo BNDES a 5% ao ano. Brasil, a única nação do planeta que vende bens públicos, e também doa o pagamento... tem que ser muito inteligente para entender uma transação dessa natureza...

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  3. Na verdade o mérito da invenção do rádio seria de Tesla, Marconi tinha a mesma natureza finória de Thomas Edson...

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  4. Paradoxalmente, a Internet aproxima e ao mesmo tempo afasta as pessoas umas das outras. O mais sensato é escolher sítios de boa qualidade, que existem aos milhares (a Wikipedia é um deles), sobre diversos assuntos tais como música, ciência, filosofia, religião etc.
    "Em atenção a uma desconfiança temerosa, a internet já me basta para nos distanciar cada vez mais uns dos outros."
    Entendi perfeitamente esta frase do Pedro Paulo, pois a Internet tem causado problemas de comunicação em crianças e adolescentes, tantas são as horas consumidas em sítios inúteis de jogos e outras coisas frívolas.
    As crianças e adolescentes de hoje, de tanto se conectarem na Internet, acham que os problemas da vida podem ser resolvidos com um simples toque de botão, metaforicamente. Elas se condicionam a resolver problemas com a rapidez dos toques nas teclas, e inconscientemente, talvez, achem que as adversidades da vida podem ser resolvidas de forma semelhante, sem reflexão, paciência, perseverança, esperança, diálogo...
    Esta é a minha opinião, uma hipótese até, e estou aberto a pontos de vista contrários, se me forem explicados de forma racional e lógica. Posso até mudar de ideia, desde que a réplica seja bem fundamentada.

    Flávio Henrique

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