terça-feira, 21 de junho de 2011

POEMA MATUTO


DO LIVRO ‘CANTIGAS QUE VÊM DA TERRA’,*
EU E MARIA

Nasci no sítio Belém
Lá nasci e me criei
E desde novo eu jurei
De num casar com ninguém
Por arte num sei de quem
Com Maria me encrontei
Quebrei tudo que jurei
Passei dois mês namorano
Passei três me ajeitano
Com quatro mês me casei

Me casei com muita fé
Mas pro pintura do diacho
Lá perto morava um macho
Inludidô de muié
Um tal de Joca Romeu
E esse um dia apareceu
No rancho que nós vivia
Com um jeitão muito estranho
Um oiá desse tamanho
Reparando pra Maria

Depois de um mês de casado
Eu notei que tinha um sócio
Ela inventou um negócio
De nós drumir apartado
Inventava um bucho inchado
Dô de cabeça e de ouvido
Um tal de corpo doído
Umas fireira no pé…
Essas manha de muié
Que quer dexá o marido

Eu só vivia dizeno:
Talvez nunca me acostume
Eu morrendo de ciúme
E os amô dela cresceno
Sempre aquelas coisa, eu veno
Ela toda diferente
Ele metido a valente
E pra terminar a novela
Tratou de vim buscá ela
Na outra noite da frente

Inda vi eles sainno
Ele perguntou por mim
Ela arrespondeu assim:
O bestaião tá drumino
Eu aquelas coisa ouvino
Fui me levantei também
Ela dizia: Ele vem
Mas num vá temê acocho
Que aquele meu véi é frôxo
Nunca brigou com ninguém

Isso era de madrugada
Quaje amanheceno o dia
Quando eu oiei, eles ia
Já descambando a chapada
Larguei os pés na estrada
Pra ver se ela me atendia
Gritava: Vem cá, Maria
Vorta pronde tu morava!
Mas quato mais eu gritava
Mais a danada corria

Mas sabe o que aconteceu
Com a vida de nós dois?
Com uns dez anos depois
Maria me apareceu
Deixou o Joca Romeu
Voltou toda diferente
Com oito fios na frente
Uns com tosse, outros com gogo
E eu tenho comido é fogo
Pra sustentar tanta gente

*Lançado em 2002 por Geraldo Amâncio e Wanderley Pereira.

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