quarta-feira, 15 de junho de 2011

MEMÓRIA


ALOÍSIO E A GAZETA

Pedro Paulo Paulino 

Aloísio de Castro
Para a maioria das pessoas que conheceu o jornalista Aloísio de Castro, seu nome está hoje associado ao “Nosso Sítio”, o restaurante e espaço de lazer que ele construiu em sua chácara nos arredores do açude São Mateus em Canindé. Para mim, todavia, seu nome está intimamente ligado à imprensa, pois foi através do jornal que eu conheci o Aloísio e foi ele quem me abriu as portas para a prática jornalística.
Fundador da Gazeta do Sertão, periódico que circulou em vários municípios cearenses, Aloísio dirigiu com muita garra o informativo que tinha sede em Canindé. Isso pelos idos de 90. Indicado por um amigo, fui requisitado para fazer parte do quadro redacional da Gazeta. Não faz muito tempo, mesmo assim ainda era mais difícil fazer imprensa alternativa do que hoje, pelo menos tecnicamente. A informática, a bem dizer, engatinhava por aqui. Há dez anos o computador tinha uso restrito. Lembro bem do processo artesanal de diagramação das páginas da Gazeta: o Aloísio debruçado sobre uma prancheta de desenhista, com uma folha de papel milimetrado na qual ele ia delineando o que seria um layout. Enquanto isso, eu martelava numa Olivetti as matérias da nova edição.
Uma das últimas edições da Gazeta, julho de 1999
Trabalhamos juntos assim durante algum tempo, antes em sua residência em Fortaleza e por último em Canindé. Acredito que ele tenha inaugurado a informatização na imprensa escrita local. Com a compra de um computador, Aloísio deu um salto de qualidade no seu jornal. Sua primeira atitude foi contratar um ex-diagramador do jornal O Povo. Em seguida preparou pessoas da cidade na técnica da editoração eletrônica. E a Gazeta passou a ser fabricada genuinamente por sangue canindeense. Pela seção de arte passaram o Edson Araújo, o Pepel, o desenhista Lourival e dona Zena, a revisora. O jornalista e fotógrafo Antonio C. Alves também compunha o quadro.
Para reforçar o time de redatores, que incluía o próprio Aloísio, foi convocado também o companheiro Sivio R. Santos. Este, com sua fortuna cultural, ilustrou as páginas da Gazeta com fato literário e reportagens criativas. Era um desafio titânico sustentar um jornal de porte médio, com recursos financeiros limitados, numa região nem tanto desenvolvida. O jornal, mesmo assim sobrevivia, a ponto de levantar denúncias apimentadas. Informou, opinou, questionou, polemizou, investigou e combateu, para expirar tempos depois, quando já era impresso em cores.
Aloísio de Castro tinha seu jornal como um filho, tais eram a dedicação, o amor, o carinho com que conduzia a empresa. Toda vez que fechávamos uma edição, ao fim de exaustiva batalha, quase sempre entrando pela madrugada, ele punha-me a mão no ombro e dizia: “Pedro, este foi mais um parto!” Eu emendava: “E foi cesariana”. Impresso em Fortaleza, o jornal era distribuído em várias cidades do Sertão Central. Ele fazia questão de levar pessoalmente os pacotes que eram entregues aos anunciantes. Na volta, já ele trazia a coleta de dados para a próxima edição. Foi uma aventura marcante para mim. E dessa aventura tirei uma conclusão: a de que todo homem que trabalha com sonhos estará para sempre efetivamente vivo.

(Crônica publicada no jornal DE MÃO EM MÃO em março de 2007. Aloísio de Castro morreu no dia 1º de março desse ano.)

7 comentários:

  1. A imprensa neste município deu os seus primeiros passos em 1903 com os poetas Cruz Filho e Gregoriano Cruz, ano em que foi lançado o jornal O CANINDÉ, considerado por Adonias Filho o mais bem redigido do interior do Ceará. Em seguida surgiram muitos outros, dentre eles o Santuário de São Francisco, órgão da Paróquia, que ainda hoje sobrevive. Os pasquins e revistas de vida curta foram muitos... Daria até assunto para uma tese de mestrado. Lembro de haver colaborado em pelo menos meia dúzia deles: Jornal de Canindé (1983), com Bosco Sobreira e Gonzaga Vieira, foi minha primeira incursão por essa seara. Depois vieram: Horizonte da Cultura, Tramela, A voz do povo, Arapuca e muitos outros.
    Muito oportuno o resgate da figura de ALOÍSIO DE CASTRO, que tentou fazer um jornalismo regional com base em Canindé.

    ARIEVALDO VIANA

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  2. Em curto período, dividi a redação com o poeta Pedro Paulo Paulino, que ali dava os primeiros passos para tornar-se competente redator e diagramador.Nas madrugadas íamos à cata de algum repasto tardio pelos botecos da cidade, tudo sacado adiantado da vitalidade de jovens cheios de ideias otimistas, enfeitiçaods por informática, literatura e boemia.Aluísio sempre presente vislumbrando grandes horizontes para seu periódico. Valeu pelo ideal. Tem também uma história de certos cajás do quintal da redação, mas essa fica para outro dia...

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  3. Cajá ou Siriguela? Não importa... Tudo serve de tira-gosto. kkkkkkkkkk

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  4. Pois é, cajá pode gerar mal entendido..kkkkkkk

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  5. É bem verdade. Lembro-me do grande serviço prestado por Aloísio de Castro a imprensa local, em que o saudoso jornalista não media esforços para que as edições da Gazeta do Sertão fossem impressas e distribuídas periodicamente. Jornal esse que mantinha um design gráfico muito bom, que inclusive ainda guardo algumas edições do mesmo, na qual trazia informações não só local, mas de vários municípios.

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  6. Esse Isaac é um dos nossos arquivos humanos de cultura. E ainda voltaremos a digitalizar os arquivos do de mão em mão.

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  7. A imprensa escrita de Canindé fornece mesmo, como lembra Arievaldo, subsídio para uma tese, dada a sua longevidade e variedade de informativos que já surgiram na cidade. Quem se debruçar sobre essa pesquisa terá mesmo que consultar as hemerotecas do Isaac e do Mardônio. Silvio R. Santos lembrou detalhes da época da Gazeta assaz melancólicos. kkkk

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