segunda-feira, 30 de maio de 2011

PONTO DE VISTA


APOLOGIA À IGNORÂNCIA


Assisti estarrecido à notícia da adoção pelo Programa Nacional do Livro Didático de uma obra de uma professora de nome Heloísa Ramos, em que admite a construção de frases ignorando a concordância, numa verdadeira apologia ao erro e descancarada valorização da ignorância.
        Ao que parece, a professora não é uma voz isolada, há um grupo de professores de lingüística, que movidos por viés ideológico, expressam a opinião de que “a língua culta é um instrumento de dominação das elites”. 
         Nesse diapasão, defendem a ideia segundo a qual o professor que chama a atenção do aluno que infringe regras gramaticais está a cometer um ato de “preconceito lingüístico”. Ora, se ensinar correto for humilhar, a regra tende a valer para todas as disciplinas e em breve ouviremos algum aluno mal informado atribuir a Napoleão Bonaparte o descobrimento da América e as patrulhas ideológicas não permitirão que ninguém o corrija. O aluno se sentirá cada vez mais encorajado a ir se utilizando da linguagem chula e incorreta, num verdadeiro atentado a nossa maior identidade cultural.
          Toda essa baboseira em torno da qual essa corrente de pensamento tola se articula, tacitamente, e de maneira perversamente enganosa, busca proteger aqueles que vindo das camadas mais pobres, cresceram em ambientes em que a língua pátria é utilizada incorretamente.
          O problema é que proteção desprotege e o tiro sai pela culatra. O idioma é o nosso melhor cartão de visita e ninguém tenha dúvida de que numa eventual entrevista para um emprego qualificado (o mercado está cada vez mais exigente), os que falam errado ficam, inexoravelmente, à margem dos melhores postos.
            O mencionado livro cuja tiragem de quase 500.000 cópias será utilizado na rede pública de ensino, exatamente a que tem sua clientela predominantemente formada pelas camadas menos favorecidas da sociedade, do ponto de vista financeiro. A frouxidão do rigor intelectual terá uma ação nefasta sobre esta camada da sociedade a se implantar de imediato e a se agravar ao longo dos anos. Será uma maneira altamente eficaz de afastar das Universidades Federais, cujas provas de redação não irão adotar tal sistema , até porque se o fizerem não terão parâmetros para correção das provas.
           Tudo isso sob as bênçãos, proteção e financiamento do Governo Federal através do Ministério da Educação que, ao invés de patrocinar uma educação de qualidade que prime pela igualdade de chances no mercado de trabalho, promove um “apartheid” cultural, e excluiu definitivamente as camadas populares.
            Se a prática de escrever de forma que nos aprouver de fato vingar, seria pra mim muito cômodo, afinal, na qualidade de escritor rábula, autor de dois livros, ficaria livre do gigantesco esforço que faço no sentido de escrever direito. E nem precisaria importunar o Pedro Paulo Paulino e o Silvio Roberto Santos, a quem sempre recorro no sentido de corrigir meus textos. A propósito, sempre sou grato aos dois e nunca me senti humilhado quando elas apontam os meus impropérios gramaticais.
           Esse é um grande “pobrema” a ser resolvido. Talvez seja a hora de se estudar mais “ingrês”, afinal, português “a gente já sabemos.”


Augusto César Magalhães Pinto

3 comentários:

  1. Na verdade tem muita gente ignorante usando dessa tese para mascarar a própria ignorância e ainda parecer moderno. Que tal largarem o computador e voltar para máquina de datilografia, deixar o carro pra voltar andar de jumento, esquecer-se da medicina pela pajelança e voltar a comer comida crua como na pré-história. IGNORANTES JÁ SOMOS POR NATUREZA, O DIFÍCIL É OBTER CULTURA! Tem gente ignorante achando que vai passar por sábio defendendo a ignorância! PARABÉNS PELA POSTAGEM.

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  2. Quero aqui humildemente emitir o meu parecer sobre o assunto, e desde já parabenizar o Cesar Magalhães pelo artigo. Sou de família pobre, de agruicultores, que para nos manter na escola (PÚBLICA)faziam das tripas coração. Más naquela época o ensino era de melhor qualidade, avaliava o aluno através de notas por média compatível com o aprendisado, caso contrário o aluno era REPROVADO, época do estudo de O.S.P.B (ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA DO BRASIL),o que hoje não ocorre. O aluno tinha regularmente a tarefa de casa, ou melhor, o DEVER DE CASA, a TABUADA, a CARTILHA DE ABC, etc e tal. Também observo a linguagem VIRTUAL, uma das responsáveis por escritos absurdos e que correm todo o mundo através da grande rede. Temos como exemplo a filha da Xuxa, duramente criticada por escrever errado na rede, dentre tantas outras aberrações.
    Como é que nós, mesmo modestos financeiramente podemos confiar no ensino público, claro, não devemos generalizar, más a grande verdade é que estamos formando analfabetos funcionais e deixando nosso futuro seriamente condenado à mesmice, à miséria, à pobreza e a tantas outras mazelas causadas por falta de educação.
    Abraço forte, saúde e paz a todos.

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  3. Talvez valha a pena dar uma olhada em http://diariodoprofessor.com/2011/07/02/livros-com-erros-de-portugues-ou-livro-que-ensina-o-portugues/

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