sábado, 21 de maio de 2011


DINHEIRO NA MÃO É VENDAVAL...

                                                                       Silvio R. Santos

            Depois de tantas notícias sobre saidinha bancária e contos do baludo,  o rádio local noticia, com certo atraso, algo bem mais insólito. O achado de dez mil reais jogados no lixo e encontrado por quem dizem ser um morador de rua. Ora, o primeiro pensamento que ocorre é de estranheza, logo a seguir surgem várias cogitações sobre como a grana teve esse destino hilário.  Para quem só usufrui de dinheiro como resultado de trabalho, quase sempre a postura é de indignação, por não ter sido agraciado com um acaso raro desses. Falou-se das várias origens dessa pequena fortuna, desde um vendedor de gado, acostumado a lidar com valores, que teria, ao mexer numa sacola, deixado cair esse pacote, que foi encontrado por garis e imediatamente tratado como lixo legítimo, tendo como destino a Geena urbana. Outras origens bem mais nobres também foram cogitadas. Como também não lembrar, nessa hora, das histórias de quem já encontrou a mesma coisa num aeroporto e foi até cumprimentado pelo presidente da república?
            E o achador como procedeu com seu tesouro? As propaladas narrativas populares dão conta de que, primeiro achou que as notas eram falsas, tendo assim rasgado várias, para testar sua autenticidade talvez ou tripudiar do destino que depositou em suas mães um presente corriqueiramente tão disputado. Depois teria jogado algumas cédulas de cem reais na correnteza recente do rio Canindé. Confetes monetários foram encontrados pelas ruas. Deu prosseguimento a sua rota de dissipação comprando por altíssimo ágio, algo que com certeza não pensou que fosse a água que lhe venderam por mil e quinhentos reais. Ah, como o rol de seus amigos se multiplicou nesse dia. Acostumado a ser normalmente escorraçado, deve ter sido até abraçado por amizades repentinas, que tiveram suas contas nas mercearias rapidamente liquidadas por sua imprevista generosidade. Quanto tempo terá durando a epopeia do novo rico? Pelo que foi fofocado de casa em casa,  menos de vinte e quatro horas. Se bem que uma lenda recente dá conta de uma lata enterrada com parte do butim, mas que por sutil ironia das parcas não é lembrada onde está.
            Com esse ocorrido, um novo comportamento surgiu entre aqueles que vagam pelas ruas, o de vasculharem detalhadamente cada depósito de lixo que encontram, numa tentativa desesperada de serem o novo felizardo de tesouros que as traças comem. O verdadeiro dono dos reais está embuçado no mais eloqüente silêncio. Como já disse o grande sambista: “dinheiro na mão é vendaval, dinheiro na mão é solução, e solidão”...  E os poetas de cordel de plantão, nada dizem?
           

2 comentários:

  1. rê, rê, rê, será que essa grana não é que está faltando no IPMC...?

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  2. Por que os escritores e comentaristas não encontram uma sacola de dinheiro entre linhas de suas escrituras. Seria excelente toda semana um ato esqucimento humanitário que vale a pena que acham e estimula os outros a procurarem.

    por isso é que falam que lixo é dinheiro, quando não temos que recicla-lo para virar grana, já feito para o sortudo.

    Obc

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