Por Freitas de Assis
E quase sempre nestas jornadas, a modorra e a mesmice são
ocasionalmente quebradas por algum evento fortuito, como agora em meados de maio
de 2021 na rua próxima de minha casa, uma cena tipicamente de grandes
metrópoles: o trânsito fluindo lentamente, guardas controlando o fluxo da via e
o intermitente da ambulância dos bombeiros, ao longe, tingindo a manhã de
vermelho e os curiosos de plantão. Me aproximo... e “está lá um corpo estendido
no chão”, com vida graças a Deus e com os soldados do fogo colocando um colar
cervical na vítima. É uma mulher. Vai sobreviver. Um acidente de moto. Torcemos
para que não fique internada, pois neste 2021, mais um ano desta pandemia, usada
politicamente de formas que me recuso a comentar, em que amigos e entes queridos
são levados mais cedo aos braços do Criador por essa doença que nivela ricos e
pobres, não distinguindo entre suas vítimas o valor de sua conta bancária,
apenas que pessoas mais abastadas podem pagar por um tratamento melhor caso a
doença se agrave, mas não é sinônimo de salvação, e o fato de precisar de
serviços hospitalares e entre eles a internação, existe grande risco de se
contaminar. Mas não há com o que se preocupar. Se ela tiver histórico de atleta
será só um resfriadinho, diriam alguns.
E ainda sobre pedalar e a quebra da
rotina, nestas empreitadas, de vez em quando costumo mudar o percurso e
rotineiramente me pego trafegando bem cedo pelo centro da Capital da Fé,
passando pela nossa majestosa Basílica, subindo a avenida Chico Campos,
retornando até o Zoológico e seguindo novamente pelo centro e indo para casa.
Ocorre que o Zoológico, a Praça dos Romeiros e a Casa de São Francisco fazem
parte da memória afetiva da maioria de nós canindeenses. Particularmente a mim
mais ainda pelo fato de ter visto a construção da Praça dos Romeiros no final
dos anos 80 do século passado e participado em meu primeiro emprego da
construção do Zoológico em meados de 1991 ao lado do meu saudoso pai, do meu tio
Chico Mãezinha e do seu Josa, exímios ferreiros, como já mencionei em outras
ocasiões, quando da construção do Zoológico, ouvia melodias com o ribombar da
marreta na bigorna e no ferro em brasa.
E nestes dias de retorno para casa,
saindo do Zoológico, vejo a modorra ser quebrada pelo fato da velha oficina onde
trabalhei com meu pai trinta anos atrás e que fica bem próxima do Museu,
encontrar-se aberta. Segui até lá e o funcionário que se encontrava me deu um
cordial bom dia, exaltando minha antiga patente militar de sargento, ignorando o
fato de eu já ser subtenente, o que pra mim é irrelevante, já que o mesmo não
deve conhecer de cor e salteado a hierarquia militar. Cumprimentei-o de volta e
mencionei que trabalhei ali com meu pai no longínquo 1991 e adentrei na velha
oficina e fui instantaneamente transportado para distantes e alegres memórias ao
lado de meu pai e ocasionalmente de meu irmão Eriberto. Pois antes de
aprendermos as primeiras lições de solda elétrica, ainda imberbes meninos, nos
aventurávamos em cair e ralar os joelhos nas primeiras lições de bicicleta nos
fundos da velha oficina, onde existia um enorme terreno antes da Praça dos
Romeiros, inclusive um campo de futebol. Ando pelo interior da oficina e revejo
as velhas máquinas que segundo o funcionário são pouco usadas, mas todas em
perfeito estado. Estão lá o policorte, a prensa hidráulica, o esmeril, a
furadeira e a forja com a bigorna, com uma marreta de cabo metálico e outras
ferramentas feitas pelo saudoso seu Noberto, todas cheias de histórias de vidas
para contar. Vi e revivi momentos alegres e saudosos. O movimento de muitos
funcionários, as brincadeiras e a camaradagem. Tirei algumas fotos para
lembrança, me despedi e agradeci ao funcionário pela oportunidade e fui me
embora no momento em que caía uma leve chuva que ajudou a disfarçar umas poucas
lágrimas que queriam transbordar de meus marujados olhos.
Muito boa história.narrtiva perfeita.recordar, é viver....
ResponderExcluirParabéns, Sub Freitas. Uma crônica muito interessante...
ResponderExcluirParabéns amigo Freitas , essa sua história narrada me lembra um pouco das minhas atividades físicas, também pedalo e faço minha corrida matinais , pra manter a saúde e a forma física e mental
ResponderExcluirExcelente. 🤝
ResponderExcluirParabéns sub , que nosso Deus continue abençoando sua vida grandemente 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirNão deixa nada a desejar, a crônicas de escritores famosos , porquê vc Freitas é um grande escritor.
ResponderExcluirEstou gostando de ler muito bom
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